Se
«Estado de Guerra» conquistar o Óscar de Melhor Filme, um dos quatro produtores da película não vai poder subir ao palco para recolher o seu prémio. A razão é o e-mail que
Nicholas Chartier, agora penalizado, enviou a vários colegas, pedindo-lhes directamente para votar na obra que produziu, em clara violação das regras de promoção admitidas pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, que organiza todo o evento das estatuetas douradas.
A decisão foi divulgada no encerramento do período de votações para os prémios, explicitando que a medida não afecta qualquer um dos outros três produtores e que, caso o filme ganhe, Chartier receberá a estatueta posteriormente. A penalização acima, que a Academia acabou por não adoptar, seria a do troféu não lhe ser atribuído em caso de vitória do filme.
Tudo começou a 19 de Fevereiro, quando
Nicholas Chartier, co-produtor de
«Estado de Guerra», realizado por
Kathryn Bigelow e nomeado para nove Óscares, enviou um e-mail para alguns colegas de profissão, apelando-os a votarem na película e pedirem a todos os seus colegas para fazer o mesmo. Ora a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tem regras muito específicas sobre a promoção que os responsáveis pelos filmes podem fazer aos mesmos, e proíbe claramente tudo o que sejam contactos directos de natureza promocional entre os votantes.
O mail de Chartier violava esse regulamento não só por via do contacto directo (as campanhas fazem-se maioritariamente na imprensa e, indirectamente, na televisão) mas também por se referir a um outro candidato, o que é expressamente proibido: a mensagem dizia que os votantes deviam apoiar
«Estado de Guerra» e não «um filme de 500 milhões de dolares», numa óbvia referência a
«Avatar».
Certamente avisado pela Academia, Nicholas Chartier retratou-se a 24 de Fevereiro, com um novo mail em que se retratava de forma inequívoca, sublinhando que «a minha ingenuidade, ignorância das regras e pura e simples estupidez não são desculpa para este comportamento, que eu lamento profundamente».
Esta violação das regras de campanha é considerada muito grave, mas a Academia esperou até ao encerramento do período de votações para divulgar a penalização.
Eis a tradução do e-mail integral enviado por Chartier:
«Espero que tudo esteja bem consigo. Só queria escrever para dizer que espero que tenha gostado do filme «Estado de Guerra», e que se assim foi e se quer que ganhemos, por favor diga (nome apagado) e aos seus amigos que votam para os Óscares, e diga aos actores, realizadores, membros da equipa, directores artísticos, profissionais dos efeitos visuais, que se toda a gente disser a um ou dois dos seus amigos, o vencedor seremos nós e não um filme de 500 milhões de dólares. Precisamos que os filmes independentes ganhem, tal como os filmes que você e eu fazemos, por isso se acredita que «Estado de Guerra» é o melhor filme de 2010, ajude-nos!
Tenho a certeza que conhece muita gente com quem já trabalhou que são membros da Academia, quer sejam publicitários, argumentistas ou técnicos de som. Por favor, gaste cinco minutos e contacte-os. Por favor, telefone a uma ou duas pessoas, tudo ajudará!
Melhores cumprimentos
Nicolas Chartier, Voltage Pictures»
Eis a tradução do e-mail de retratação de Chartier, enviado cinco dias depois:
«A semana passada, enviei-lhe um e-mail sobre os Óscares, em geral, e «Estado de Guerra», em particular.
O meu e-mail para si foi despropositado e não estava de acordo com o espírito de celebração do cinema que é este reconhecimento. Eu ainda estava mais errado, tanto pessoal como profissionalmente, ao pedir a sua ajuda para encorajar outros a votarem no filme e ao emitir comentários sobre outra película. Por muito apaixonado que eu seja pelo filme que fizemos, este e-mail foi extremamente inapropriado, e algo que Academia reprova de forma muito acentuada nas regras.
A minha ingenuidade, ignorância das regras e pura e simples estupidez como nomeado pela primeira vez não é desculpa para esse comportamento e lamento-o profundamente. Ser nomeado para um Óscar da Academia é a honra mais importante de todas e eu devia ter gasto algum tempo a ler as regras.
Estou a enviar este e-mail a todas as pessoas com esta mesma declaração, para me retratar do meu e-mail anterior e pedindo que, por favor, não o considerem.
Peço sentidas desculpas a todos aqueles a quem ofendi.
Melhores cumprimentos
Nicolas Chartier, Voltage Pictures»
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