"Listen" foi o grande vencedor dos Prémios Sophia, os "Óscares portugueses" da Academia Portuguesa de Cinema, entregues este domingo à noite numa cerimónia no Casino Estoril (Cascais) e transmitida em diferido na RTP2 em que se apelou aos espectadores para que vejam cinema português.
Melhor Filme, Realização (Ana Rocha de Sousa), Atriz Principal (Lúcia Moniz), Atriz Secundária (Maisie Sly) e Argumento foram as distinções para a coprodução luso-britânica rodada nos arredores de Londres com elenco português e inglês inspirada na história real sobre uma família portuguesa emigrada a quem é retirada a guarda dos filhos, por suspeitas de maus-tratos.
"Agradeço a todas as pessoas que me têm amado, acompanhado e protegido. Agradeço a todos o que não o fizeram, que me criticaram e me ajudaram a ser melhor. Aprendi que não precisamos de conquistar todos. Precisamos é de descobrir aquilo que queremos fazer", disse a realizadora no discurso de agradecimento.
A primeira longa-metragem de ficção de Ana Rocha de Sousa venceu vários prémios no Festival de Veneza de 2020, entre os quais o "Leão do Futuro", para uma primeira obra, e o prémio especial do júri da competição Horizontes, e chegou a ser proposto da Academia Portuguesa de Cinema como o candidato de Portugal a uma nomeação para os Óscares na categoria de Melhor Filme Internacional, mas foi rejeitado por ser maioritariamente falado em língua inglesa.
Rodrigo Areias, produtor sedeado em Guimarães e coprodutor de "Listen", agradeceu o prémio de Melhor Filme à organização: "Agradeço à Academia que, ao contrário do coletivo de juízes do Tribunal Constitucional, não acha desprestigiante que ele [o prémio] siga para norte".
"Listen" ultrapassou na reta final "Mosquito", que partia para a cerimónia com mais nomeações (13) e dominou grande parte da noite.
A ficção inspirada numa história verídica do avô do realizador João Nuno Pinto, passada em África, durante a Primeira Guerra Mundial, recebeu seis prémios, destacando-se os de Melhor Ator para João Nunes Monteiro e Melhor Ator Secundário (a título póstumo) para Filipe Duarte (que já ganhara no ano passado na mesma categoria com "Variações"), além de Som, Montagem, Guarda-Roupa e Efeitos Especiais/Caracterização.
Com dez nomeações, "Ordem Moral", de Mário Barroso e com Maria de Medeiros, ficou-se pelas distinções nas categorias de Maquilhagem e Cabelos e Banda Sonora Original.
Ainda com dois prémios ficou "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de João Botelho: Fotografia e "O Ano da Morte de Ricardo Reis".
"Amor Fati", de Cláudia Varejão, recebeu o prémio de Melhor Documentário em Longa-Metragem, e "Terra Nova", de Joaquim Leitão, cuja estreia nos cinemas foi adiada por causa da pandemia, viu a versão para TV distinguida na categoria Melhor Série/Telefilme.
Destaque ainda para Alexandra Ramires, que venceu o Sophia de melhor animação com "Elo", e para o realizador Bernardo Lopes, que venceu o Sophia de Melhor Curta de Ficção, com "Moço", e um dos prémios revelação Nico.
A Academia Portuguesa de Cinema atribuiu este ano pela primeiro vez um prémio Sophia de Melhor Filme Europeu: "J'accuse - O Oficial e o Espião", de Roman Polanski, foi eleito "por um colégio de críticos e jornalistas de cinema".
Este prémio foi recebido por Pedro Borges, que distribuiu o filme em Portugal, recordando que a obra esteve poucas semanas em sala, por causa da pandemia da COVID-19.
"Vivemos num país em que praticamente não há cinemas independentes e era bom começarmos a pensar nesse problema, entre aqueles que fazem o cinema, porque a nível oficial isso parece não ser considerado", disse Pedro Borges.
A atriz e encenadora Maria do Céu Guerra e o ator Sinde Filipe foram galardoados com o prémio Sophia de carreira.
Ao longo da cerimónia dos Sophia foram feitos várias apelos, nomeadamente do presidente da Academia, Paulo Trancoso, e de Maria do Céu Guerra, para que os portugueses retomem o hábito de ir ao cinema e que vejam, em particular, cinema português.
Quando recebeu o prémio de Melhor Ator, pela prestação em "Mosquito", João Nunes Monteiro aproveitou para deixar um agradecimento sentido a estruturas que surgiram durante a pandemia, nomeadamente a União Audiovisual e a Ação Cooperativista, "que defendem e lutam para a dignificação" do setor cultural, "que é precário e negligenciado".
Na plateia, condicionada por causa da pandemia, estiveram sobretudo nomeados e algumas personalidades relacionadas com o setor, nomeadamente da direção da Cinemateca Portuguesa, do Instituto do Cinema e Audiovisual e o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva.
Lista dos premiados
Melhor Filme
"Listen", de Ana Rocha de Sousa
Melhor Realização
Ana Rocha de Sousa ("Listen")
Melhor Ator Principal
João Nunes Monteiro ("Mosquito")
Melhor Atriz Principal
Lúcia Moniz ("Listen")
Melhor Actor Secundário
Filipe Duarte ("Mosquito")
Melhor Actriz Secundária
Maisie Sly ("Listen")
Melhor Documentário em Longa-Metragem
"Amor Fati", de Cláudia Varejão
Melhor Série/Telefilme
"Terra Nova", de Joaquim Leitão
Melhor Filme Europeu
(escolhido "por um colégio de críticos e jornalistas de cinema")
"J'accuse - O Oficial e o Espião", de Roman Polanski
Melhor Argumento Original
"Listen" (Ana Rocha de Sousa, Aaron Brookner e Paula Vaccaro)
Melhor Direção de Fotografia
"O Ano da Morte de Ricardo Reis"
Melhor Som
"Mosquito"
Melhor Montagem
"Mosquito"
Melhor Direção Artística
"O Ano da Morte de Ricardo Reis"
Melhor Guarda-Roupa
"Mosquito"
Melhor Efeitos Especiais/Caracterização
"Mosquito"
Melhor Maquilhagem e Cabelos
"Ordem Moral"
Melhor Banda Sonora Original
"Ordem Moral"
Melhor Curta-Metragem de Ficção
"Moço", de Bernardo Lopes
Melhor Curta-Metragem de Documentário
"Mulher como Árvore", de Alejandro Vázquez, Carmen Tortosa, Daniela Cajías, Flávio Ferreira e Helder Faria
Melhor Curta-Metragem de Animação
"Elo", de Alexandra Ramires
Prémio Sophia Estudante
"No Fim do Mundo", de Abraham Escobedo-Salas (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)
Prémio Sophia Carreira
Sinde Filipe e Maria do Céu Guerra.
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