Após o escândalo à volta do ator Sofiane Bennacer e "por respeito às vítimas (mesmo as alegadas)", a Academia de Cinema Francesa decidiu proibir a presença na cerimónia dos prémios César desde ano de pessoas indiciadas ou condenadas pela justiça por crimes sexuais.
Atores, realizadores ou outros profissionais da indústria ainda podem ser nomeados para os "Óscares franceses", mas “ninguém poderá falar em seu nome” caso ganhem, avançou a organização em comunicado na segunda-feira.
A Academia diz que ainda está a debater se pessoas acusadas ou condenadas devem ser também banidas de futuras nomeações, prometendo uma decisão nas próximas semanas.
Os crimes sexuais permaneceram um tabu na indústria do cinema da França mesmo após o movimento #MeToo ter começado nos EUA em outubro de 2017 com as denúncias de assédio e violação contra o produtor Harvey Weinstein.
Em novembro de 2019, houve uma viragem contra esse silêncio e tolerância quando Adèle Haenel acusou o cineasta Christophe Ruggia de a ter assediado na adolescência: a atriz premiada com dois César foi a primeira estrela a dar a cara como vítima de alegados abusos e provocou uma onda de comoção e solidariedade na indústria.
No entanto, a imprensa francesa descreveu o "ambiente pesado" que caiu na cerimónia dos César a 28 de fevereiro de 2020 quando o ausente Roman Polanski foi anunciado como o vencedor na categoria de Melhor Realização pelo filme "J’accuse - O Oficial e o Espião": houve poucas palmas e dezenas de pessoas abandonaram o local, incluindo uma visivelmente transtornada Adèle Haenel.
Em maio, a atriz de "Retrato da Rapariga em Chamas" anunciou o abandono da carreira no cinema pela forma como as mulheres e minorias são tratadas por uma indústria cinematográfica que descreveu como "absolutamente reacionária, racista e patriarcal".
Investigado desde março de 2022 por "indícios graves" de violação pela Justiça francesa, Gérard Depardieu, que nega as acusações, continua a trabalhar a ritmo intenso.
Apesar de estar pendente um julgamento por agressão sexual, também o produtor Dominique Boutonnat, presidente do poderoso Centre national du cinéma et de l'image animée, foi reeleito para um segundo mandato em julho do ano passado.
Entre tudo isto, a Academia dos César foi acusado de lidar com ligeireza com os crimes sexuais: o culminar foi a presença em novembro de 2022 do ator Sofiane Bennacer, de 25 anos, que entra no filme "Les Amandiers", realizado por Valeria Bruni Tedeschi, como um dos finalistas para a votação de onde irão sair as nomeações ao prémio de Melhor Esperança Masculina.
Após novas alegações terem sido noticiadas na comunicação social de que está a ser investigado por duas acusações de violação a uma namorada, a Academia acabou por retirar o ator da lista.
Valeria Bruni-Tedeschi, alegadamente a atual namorada de Bennacer, denunciou um "linchamento mediático". A sua irmã, a cantora e antiga Primeira-Dama da França Carla Bruni, diz que a forma como o ator está a ser tratado afeta a presução de inocência, "um dos pilares da nossa democracia".
A 48.ª cerimónia dos prémios César terá lugar a 24 de fevereiro.
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