Numa entrevista à Sight and Sound que está a atrair muita atenção mediática pelas opiniões polémicas, o realizador de "Blonde" revela não ter grande respeito pela carreira da atriz e o legado da pessoa que está a retratar: Marilyn Monroe.
A jornalista Christina Newland revela que se tornou claro que ela e Andrew Dominik olham para Marilyn de "perspetivas diametralmente opostas" durante uma conversa que descreve como "espirituosa" e "amigável", mas também uma "sessão de sparring animada" sobre o filme com Ana de Armas já disponível na Netflix que admite (nas redes sociais) que "detestou".
A maior de todas será sobre os próprios filmes da lendária 'sex symbol': a jornalista admite que o realizador mostrou conhecê-los todos, mas descreveu-os, na maioria, como "artefactos culturais", sendo uma exceção "Quanto Mais Quente Melhor", realizado por Billy Wilder em 1959.
"Os Homens Preferem As Loiras", um clássico da comédia de 1953 com Monroe e Jane Russell, tem direito a comentários de maior desdém e logo à volta do seu momento mais famoso: "Quando ela canta 'Diamonds Are a Girl’s Best Friend', é como um aviso de irmã, do género 'se vais fazer sexo, assegura-te que te pagam?'. Ou é apenas uma prostituição romantizada?".
Mas o comentário que está a causar grande indignação surge num excerto que foi cortado e partilhado pela jornalista nas redes sociais, onde Andrew Dominik realizador se pergunta se alguém vê sequer os filmes de Marilyn e após se mostrar "genuinamente chocado" quando a interlocutora lhe diz que ela e muitos dos seus amigos e colegas gostam da comédia de Howard Hawks, descreve-a como "cínica sobre as mulheres" e as personagens das duas atrizes como "prostitutas bem vestidas".
Durante a entrevista, Andrew Dominik deixa claro que o único legado que lhe interessa de Marilyn é a parte mais emocional e trágica: "Não estou interessado em realidade, estou interessado em imagens. Portanto, escolhi cada imagem de Marilyn que consegui encontrar e tentei elaborar cenas à volta dessas imagens".
Não aparecem em "Blonde" outras facetas de Marilyn, como a de enfrentado o poder masculino em Hollywood ao formar a sua própria produtora, a oposição à "caça às bruxas" anticomunista nos anos 1950 ou a defesa do movimento dos direitos civis.
"O filme não é realmente sobre essas coisas. É sobre uma pessoa que se vai suicidar. Portanto, está a tentar examinar as razões [...] Não está a olhar para o seu legado. Nem ela se preocupava muito com isso", diz o realizador.
"Se olharmos para Marilyn Monroe, ela tem tudo o que a sociedade nos diz que é desejável. Ela é famosa, Ela é bela. Ela é rica. Quando se olha para a versão Instagram da sua vida, ela tem tudo. E matou-se. Para mim, isso é o mais importante. Não é o resto. Não são os momentos de força. Tudo bem, lutou para tirar o controlo dos homens no estúdio, porque elas são tão poderosas como eles. Mas isso é olhar para isto através de um prisma que não é tão interessante para mim. Estou mais interessado em como ela se sente, estou interessado em como era a sua vida emocional", esclarece.
TRAILER "BLONDE".
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