É quase sempre lembrado pelas comédias do cinema português que interpretou, na década de 1940. Mas o ator é sobretudo um homem do palco. Dedicou-lhe a vida inteira e a direção de dramaturgos como
Anton Tchekov,
Nicolai Gogol ou
Samuel Beckett, que estreou em Portugal.
Duas décadas e meia sobre a sua morte, a Internet, que nunca conheceu, reserva-lhe mais de um milhar de vídeos e a homenagem
«É bom correr», que retoma o
sprint do ator, entre a sapataria dos Armazéns Grandella e a Perfumaria da Moda de Tatão, «Au Bonheur des Dames», em plena rua do Carmo.
Ator, encenador, cineasta,
Francisco Carlos Lopes Ribeiro nasceu a 21 de setembro de 1911. Pisou os palcos pela primeira vez em criança, no verão de 1917, na revista
«Tiros sem bala», apresentada no Grémio dos Despretensiosos da capital portuguesa.
A estreia profissional, no entanto, só aconteceria em 1929, quando integrou a Companhia Chaby Pinheiro e o elenco de
«A Maluquinha de Arroios», de Andre Brun. Seguir-se-ia o trabalho com os grupos de teatro de Alves da Cunha e Berta Bívar, Maria Matos e Mendonça de Carvalho, Satanela-Amarante. Ao longo da década de 1930, a popularidade do autor aumentou. Percorreu o país, em digressões teatrais, tornou-se figura regular do teatro de revista, expandiu a atividade à comédia, ao drama e ao cinema.
Na tela, foi o caixeiro apaixonado por Tatão, em
«O Pai Tirano», o porteiro do antigo número 13 de lisboeta rua Castilho, onde morava
«A Vizinha do Lado», ou Rufino filho, o improvável sedutor que conquistava a Maria da Graça do
«Pátio das Cantigas», filme que também realizou.
Antes, em 1936, tomara a direção do Teatro do Povo, para a qual fora convidado pelo secretário nacional da Propaganda, António Ferro. Seguir-se-iam Os Comediantes de Lisboa, em 1944, companhia que fundou no Teatro da Trindade, o Teatro Universitário, o Teatro Nacional Popular, já na década de 1950, e a companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, com quem trabalhou regularmente até meados dos anos de 1960.
Ao longo da carreira, levou a cena textos dos grandes dramaturgos, como Maurice Maeterlinck, Anton Tchekov, Nicolai Gogol, Bernard Shaw, Óscar Wilde ou Samuel Beckett, do qual fez a estreia portuguesa de
«À Espera de Godot», em 1959.
Francisco Ribeiro revelou atores como Ruy de Carvalho, Armando Cortez, Canto e Castro, Manuela Maria, Francisco Nicholson, Carlos Wallenstein, Nicolau Breyner ou Mariema. Com
«O Impostor Geral», versão particular de «O inspetor-geral», de Gogol, abriu o Teatro Villaret de Raul Solnado, em 1965.
Em 1977, integrou a comissão instaladora do Teatro Nacional de D. Maria II, em Lisboa, assumindo a sua direção entre 1978 e 1981, quando da reabertura, após o incêndio de 1964. Aqui assinou as suas derradeiras direções – Shakespeare e «As Alegres Comadres de Windsor», «A Bisbilhoteira», de Eduardo Scwalback – e uma programação que foi de Luís Sttau-Monteiro a Máximo Gorki.
Irmão mais novo de
António Lopes Ribeiro – facto que lhe valeu a alcunha –, Francisco Ribeiro integrou o elenco de cinco filmes do cineasta:
«A Revolução de Maio» (1937),
«Feitiço do Império» (1939),
«O Pai Tirano» (1941),
«A Vizinha do Lado» (1945),
«O Primo Basílio» (1959).
Fez ainda
«A Menina da Rádio» (1944) e
«O Grande Elias» (1950), com Arthur Duarte,
«O Costa de África» (1954), de João Mendes,
«Aqui há fantasmas» (1964), de Pedro Martins. Em 1978-80, entrou em
«O Diabo Desceu à Vila», de Teixeira da Fonseca.
Pelo meio ficaram colaborações com a televisão –
«Noite de Reis»,
«O Urso» – ou a direção do documentário
«Rodas de Lisboa».
«Além de ser um grande ator, Ribeirinho foi um grande encenador», escreveu o antigo presidente da Cinemateca Portuguesa João Bénard da Costa, nas «Histórias do Cinema», da Imprensa Nacional Casa da Moeda.
O crítico Jorge Leitão Ramos não hesitou mesmo em considerar a estreia portuguesa de
«À Espera de Godot» «o mais forte abanão de progresso do teatro português nesses anos», no artigo sobre Ribeirinho, para o Dicionário do Cinema Português (ed. Caminho).
«Os melhores momentos visuais de
O Pátio [das Cantigas]», lembrou Bénard da Costa, «apontam-nos a presença desse grande encenador». «As relações entre os vários espaços horizontais e verticais são (…) trabalhadas em função do espaço cinematográfico, revelando uma aguda consciência do tempo e do jogo das situações que caracterizaram também as melhores encenações de Ribeirinho».
O ator e encenador morreu em Lisboa, a 07 de fevereiro de 1984, aos 73 anos.
Maria Augusta Gonçalves/Lusa
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