De acordo com a Associação pelo Documentário (Apordoc), o apoio da Câmara Municipal de Lisboa ao Doclisboa é, desde 2017, “e sem qualquer aumento desde então, de 100 mil euros”, reconhecendo que a autarquia é “um parceiro histórico do festival que, em anos particularmente difíceis, como em 2012, assegurou estabilidade e proximidade com a sua equipa”,

Em comunicado, a Apordoc sublinha que com a entrada da atual equipa de Carlos Moedas na autarquia, o então vereador da Cultura Diogo Moura “continuou a reunir com a equipa do Doclisboa para preparação e balanço das edições”.

No entanto, quando este saiu [suspensão do mandato] e o presidente da Câmara integrou a pasta da Cultura no seu gabinete, “a direção da Apordoc e a equipa do Doclisboa solicitaram por diversas vezes reunião com o gabinete” de Carlos Moedas, mas asseguram que nunca obtiveram qualquer resposta”.

A Associação lembrou também que perante a notícia de que a autarquia iria ser parceira da SIC/OPTO para a realização da primeira edição do Festival de Tribeca em Lisboa, o Doclisboa “juntou-se a uma série de outras estruturas do cinema e solicitou por carta” a Carlos Moedas uma reunião “para que esta decisão fosse esclarecida”, carta essa que nunca obteve resposta.

“Apesar de o evento Tribeca ter acontecido em datas coincidentes com o Doclisboa, nunca recebemos qualquer informação ou sinal de disponibilidade para esclarecimentos por parte da CML”, refere a Apordoc.

Pela primeira vez “desde há pelo menos uma década”, este ano o pagamento do apoio “foi atrasado pela CML”, adiantou associação, sublinhando que a 22.ª edição do Doclisboa abriu em outubro “sem ter recebido o apoio”, o que criou “uma situação de liquidez financeira difícil”, que obrigou a alterar estratégias.

Só após a vários dias de insistência da associação, o pagamento foi feito, tendo o gabinete de Carlos Moedas informado que este iria visitar o DocLisboa “nos dias seguintes”, mas tal não veio a acontecer, nem foi comunicada a razão.

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, disse na segunda-feira haver “muitos festivais” com mais financiamento do que o Tribeca e referiu que a autarquia aumentou o orçamento para a cultura para poder ajudar mais eventos do género.

Questionado pelos jornalistas sobre os critérios e procedimentos tidos em conta para aprovar a transferência de dinheiro para o financiamento do Tribeca Festival Lisboa, Carlos Moedas afirmou que atualmente, na capital, há “muitos festivais que têm muito mais financiamento” do que o que decorreu em 18 e 19 de outubro no Hub Criativo do Beato, com filmes, conversas e atuações musicais, entre outros.

“O caso do LeFest de Paulo Branco, o DocLisboa, todos os outros - nós aumentámos o orçamento para a cultura exatamente para poder ajudar mais festivais”, explicou o social-democrata à entrada para o Seminário em Ética, Integridade e Prevenção da Corrupção, destinado a cerca de mil trabalhadores da autarquia, no Dia Internacional contra a Corrupção.

Moedas referiu que muitos dos festivais que acontecem pela cidade “não são ajudados diretamente pela Câmara, mas por empresas municipais”, como é o caso da Lisboa Cultura/EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural ou da Turismo de Lisboa, “quando têm esse pendor”.

“Portanto, [os apoios são feitos] dentro da normalidade e teremos cada vez mais destes festivais. Eles são importantes para a cidade, trazem retorno económico, mas trazem sobretudo Lisboa como centro da cultura mundial e isso é aquilo que eu sonho para a cidade, que é a cidade da inovação, tecnologia, mas também da cultura”, sublinhou.

De acordo com a Apordoc, o apoio da Lisboa Cultura/EGEAC ao Doclisboa corresponde a uma “coprodução e parceria estratégica” e concretiza-se na utilização do Cinema São Jorge e na colaboração com a sua equipa e estrutura de comunicação, bem como numa partilha de bilheteiras na proporção de 50/50.

“Compreendemos que, perante a notícia de que, além de outros apoios estatais avultados, foram investidos no evento Tribeca Lisboa 500 mil euros de dinheiros públicos sob a alçada do sr. presidente Carlos Moedas e seu executivo (da CML e da EGEAC), o sr. presidente tenha sentido a necessidade de afirmar o compromisso político da sua equipa com a diversidade de festivais que existem na cidade”, consideram na nota.

Desta forma, a Apordoc refere que o “Doclisboa não recebeu nenhum aumento de apoio direto por parte da CML ou da Lisboa Cultura - EGEAC desde, pelo menos, 2017”.