A rodagem do novo filme do realizador João Nicolau começou na semana passada, na Castanheira de Pêra, com o músico Salvador Sobral e os atores Pedro Inês e Clara Riedenstein a interpretar alguns dos principais papéis.
Em trabalho de reportagem, a agência Lusa assistiu às primeiras filmagens de “A Providência e a Guitarra”, realizadas no Carriçal, um minúsculo povoado daquele concelho montanhoso, no norte do distrito de Leiria, cujo elenco artístico, na ocasião, também incluía Beatriz Brás e Leonardo Garibaldi.
Na longa-metragem, João Nicolau tem como “ponto de partida” o conto homónimo de Robert Louis Stevenson (1850-1894), nascido em Edimburgo, um dos mais reconhecidos escritores britânicos do século XIX.
Nas encostas do Carriçal, no quintal de uma casa antiga recuperada pelos novos donos, a película é apresentada com “um mergulho nas agruras e deleites da vida artística e uma exploração das suas consequências” nas relações conjugais e sociais.
Um casal de artistas ambulantes, Léon (Pedro Inês) e Elvira Berthelini (Clara Riedenstein), que ganha a vida a atuar em tabernas e cafés, chega à vila de Covarronca para realizar o seu espetáculo de variedades.
Num enredo marcado por sucessivas peripécias, surge em paralelo, na atualidade, “uma promissora banda de 'rock' [que] entra em declínio motivado pelas divergências pessoais e artísticas” no seio do grupo.
Nestas circunstâncias adversas, o duo acaba por conhecer um jovem finalista da Universidade de Cambridge, Stubbs (Salvador Sobral), que os ajuda a procurar abrigo. A participação em “A Providência e a Guitarra” é a estreia do compositor na área do cinema.
“Eu tinha sempre este 'bichinho'”, afirma Salvador Sobral à Lusa, recordando que em tempos manifestou esse desejo a João Nicolau, num serão em que foram com amigos “beber um copo ao Bairro Alto”, em Lisboa.
Essa oportunidade surgiu mais tarde, quando o realizador o convidou para entrar no novo filme.
Em 2017, Salvador Sobral venceu o Festival da Eurovisão com a canção “Amar pelos Dois”, da autoria de sua irmã, Luísa Sobral, com a mais elevada pontuação de sempre no concurso.
“A minha participação está a ser um choque de humildade brutal”, declara o cantor e compositor.
A nova experiência “não tem nada a ver” com o seu trabalho em palco ou em estúdio dos últimos anos.
“Estou a divertir-me muito. Aqui, sou mais uma personagem que tem de se adaptar ao bem maior”, explica, num terraço decorado por hortênsias, aproveitando uma pausa curta entre dois concertos, um já efetuado em Espanha, no dia 06, sendo o próximo em Valença, hoje, e outro em Sines, no dia 24.
No papel de Stubbs, ironicamente, “não gosto de música”, revela Salvador Sobral, assumindo que o próprio realizador o advertiu na gravação de uma cena: “Não podes reagir à música”.
Clara Riedenstein também está contente com as filmagens, que “têm corrido otimamente”. Encarna a figura de Elvira Berthelini em mais uma obra de João Nicolau, “um filme sobre o amor e a arte”.
“Tem sido um trabalho interessante e muito divertido”, diz Clara à Lusa.
Em “A Providência e a Guitarra”, Elvira e Léon Berthelini (Pedro Inês) “são pessoas completamente diferentes, mas muito ligadas”, de tal modo que “o casal é uma personagem” em si mesmo, segundo a atriz.
“O amor à arte salva a arte do amor”, acrescenta, por seu turno, Pedro Inês, para contar que os dois “partilham imenso” e desenvolvem a ação “numa certa redoma”.
“Equilibram-se um ao outro, mas são a personificação disto”, são “um casal perfeito que anda por aí a ver se lhe arranjam guarida”, na localidade de Covarronca, descreve o ator. O trio Elvira, Léon e Stubbs questiona “onde está o papel da arte na sociedade”.
“Esse impulso humano tem de continuar a ser exercido e construído”, defende Pedro Inês.
Com produção de O Som e a Fúria, o filme tem apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, da RTP e do município da Castanheira de Pera.
A rodagem prolonga-se até 7 de agosto, devendo terminar na zona de Lisboa.
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