Sete anos após ter provocado um dos maiores escândalos do Festival de Cannes, o realizador dinamarquês Lars von Trier regressou esta segunda-feira (14) à Croisette pela "porta das traseiras" com "The House that Jack Built" [A Casa Que Jack Construiu].
O filme, no qual Matt Dillon encarna um assassino em série, foi apresentado à noite, fora da competição. Uma Thurman e Riley Keough fazem aparições especiais que invocam as loiras tão apreciadas no cinema de Alfred Hitchcock e o realizador parece estar a refletir sobre a sua própria carreira através da personagem de Dillon.
Não foi programada qualquer conferência de imprensa, mas está previsto que von Trier dê algumas entrevistas na terça-feira. Assíduo da Croisette, onde esteve uma dezena de vezes, o realizador é conhecido pelas cenas de sexo e violência nos seus filmes. O seu novo trabalho não foi exceção e o programa oficial incluía um aviso sobre a existência de cenas potencialmente perturbadoras.
Mesmo assim, existem relatos de que dezenas de jornalistas e críticos saíram da sessão das 22h30 antes do final do filme e as reações de nojo e indignação chegaram às redes sociais.
"Nunca vi nada parecido num festival de cinema. Mais de 100 pessoas saíram do 'The House That Jack Built' de Lars von Trier, que mostra a mutilação de mulheres e crianças. 'É nojento', disse uma mulher que estava a sair'"
"Acabei de sair do 'The House that Jack Built' de Lars Von Trier. Repugnante. Pretensioso. Vómito. Torturante. Patético"
"Saí do Lars vonTrier. Um filme vil. Não devia ter sido feito. Os atores têm culpas"
Mas também há relatos de que os aplausos no fim do filme afogaram quaisquer vaias e pessoas espantadas com as reações de choque.
"Há pessoas a sair do novo filme de Lars von Trier. Como se não soubessem exatamente no que se estavam a meter."
"Podemos falar sobre a falta de noção dos espectadores de Cannes que esperavam ser levemente entretidos por um filme de Lars von Trier sobre um assassino em série"
Em 2011, Lars von Trier expressou a sua "simpatia" por Hitler durante a conferência de imprensa de imprensa de "Melancolia". Apesar de ter pedido desculpas, foi declarado "persona non grata" em Cannes, uma sanção sem precedentes. Muito apreciado pela crítica, o seu filme foi mantido na competição e a atriz americana Kirsten Dunst obteve o prémio de melhor atriz pelo seu papel de uma noiva depressiva.
Desde aquele escândalo, o realizador dinamarquês, Palma de Ouro em 2000 por "Dancer in the Dark", não tinha voltado ao festival.
Sem comentar seu convite a Cannes, o cineasta, de 62 anos, disse recentemente que lamentava as suas declarações de 2011. "Nunca fui e nunca serei nazi", afirmou quando recebeu o mais prestigiado prémio dinamarquês de personalidade da cultura.
"As consequências tremendas da conferência de imprensa custaram-me anos de angústia. Toda esta história ensinou-se que precisamos de nos expressar de forma prudente", acrescentou, citado pelo jornal Politiken.
Recentemente foi acusado de assédio sexual por parte da cantora islandesa Björk, protagonista de "Dancer in the Dark".
"Não foi assim. Mas o facto é que realmente não éramos amigos", defendeu-se.
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