O ator William Hurt faleceu este domingo, aos 71 anos.
Embora a causa oficial avançada pela família seja "causas naturais", fora anunciado em maio de 2018 que sofria de cancro terminal na próstata.
A notícia foi partilhada pelo seu filho Will esta noite: "É com grande tristeza que a família Hurt lamenta a morte de William Hurt, amado pai e ator vencedor do Óscar, em 13 de março de 2022, uma semana antes do seu 72º aniversário. Morreu tranquilamente, entre a família, de causas naturais. A família pede privacidade neste momento”.
Com uma fama construída a interpretar personagens excêntricos e invulgares, William Hurt foi uma das estrelas mais hipnotizantes, marcantes e notáveis no cinema norte-americano da década de 1980.
Nascido a 20 de março de 1950, quis ser padre, mas abandonou os estudos de Teologia no último ano por Arte Dramática, conseguindo a entrada na prestigiada escola Juilliard de Nova Iorque e ganhando logo um prémio para a sua estreia "off-Broadway" em 1977 e um Theatre World Award no ano a seguir.
O cinema não demorou e após a marcante estreia como um cientista obcecado em "Viagens Alucinantes" (1980), de Ken Russell, seguiu-se "Os Olhos da Testemunha" (1981) e "Noites Escaldantes" (1981), que fez dele e Kathleen Turner símbolos sexuais e estrelas, lançando ainda a carreira do realizador e argumentista Lawrence Kasdan.
Após se tornar um agente "soviético" frente a Lee Marvin em "O Mistério de Gorky Park" (1983), entrou no seu período de maior aclamação, com o filme para toda uma geração "Os Amigos de Alex" (1983), novamente de Kasdan e ao lado de nomes como Tom Berenger, Glenn Close, Jeff Goldblum e Kevin Kline, o prémio de Melhor Ator no Festival de Cannes e o Óscar pelo papel de um homem preso pelo crime moral de ser homossexual em "O Beijo da Mulher Aranha" (1985), e as nomeações consecutivas na mesma categoria pelo professor de alunos com deficiência auditiva em "Filhos de um Deus Menor" (1986) e um jornalista apresentador de noticiários ignorante em "Edição Especial" (1987).
Após "O Turista Acidental" (1988) e "Amar-te-ei até te matar" (1990), ambos também de Lawrence Kasdan, e "Alice", de Woody Allen (1990), a carreira entrou em nítido declínio, com William Hurt a ser menos falado por triunfos artísticos e mais pela vida privada, com conturbadas relações pessoais (incluindo com Marlee Matlin durante a rodagem e após "Filhos de um Deus Menor", que o acusou de comportamento abusivo) e problemas de alcoolismo e drogas, que levaram mesmo ao seu internamento para tratamento.
Apesar de alguns bons momentos em "Smoke - Fumo" (1995), "Um Divã em Nova Iorque" (1996), "Michael" (1996) ou "A.I. Inteligência Artificial" (1999), o recuperação só começou com "A Vila" (2004) e principalmente com a breve (10 minutos), mas assustadora interpretação de um mafioso de Filadélfia em "Uma História de Violência" (2005), que teve grande impacto na crítica e lhe valeu a quarta e última nomeação para os Óscares, como Ator Secundário.
Embora a carreira nunca tenha recuperado o mesmo fulgor, seguiram-se papéis secundários em projetos de prestígio como "Syriana" (2005), "O Bom Pastor" (2006), "A Face Oculta de Mr. Brooks" (2007), "O Lado Selvagem" (2007) e "Ponto de Mira" (2008), e um reencontro com Glenn Close em vários episódios da série "Sem Escrúpulos" (2009), que lhe valeu a nomeações para vários prémios, tal como com o telefilme "Demasiado Grande Para Falhar" (2011), de Curtis Hanson.
Sinal do prestígio reconquistado, foi o General Thaddeus Ross em "O Incrível Hulk" (2008), o segundo filme do Universo Cinematográfico Marvel, que repetiu em "Capitão América: Guerra Civil" (2016), "Vingadores: Guerra do Infinito" (2018), "Vingadores: Endgame (2019) e "Viúva Negra" (2021).
Em várias entrevistas, William Hurt deixou claro que se sentia alheio ao mundo das celebridades e decidiu não se estabelecer em Hollywood, mas no estado do Oregon.
"Não me sinto confortável com isto tudo. Não me sinto confortável a andar na passadeira vermelha com fato de cerimónia e a ver todas as mulheres com os peitos levantados e todos os homens vestidos como pinguins", disse a um entrevistador.
Paradoxalmente, a sua vida privada parece ter sido tirada de um filme de Hollywood.
Antes da relação com Marlee Matlin, casou-se com a atriz Mary Beth Supinger (depois Mary Beth Hurt) e seguiu-a para Londres para estudar arte dramática. Divorciaram-se quando voltaram a Nova Iorque.
No fim da década de 1980, foi processado por uma ex-companheira, a bailarina Sandra Jennings, mãe de um de seus filhos.
Hurt tinha outros dois filhos de um casamento anterior e uma filha, chamada Jeanne, fruto de um relacionamento com a atriz francesa Sandrine Bonnaire. Tinha uma casa fora de Paris e falava francês fluentemente. Também era piloto privado.
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