A notícia foi confirmada pelo Hollywood Reporter, a quem a família de Wes Craven comunicou que o realizador morreu aos 76 anos na sua casa em Los Angeles, na California, vitimado pelo tumor cerebral que combatia há vários meses. Craven era um dos grandes mestres do terror no cinema, um dos que mais conhecia e manobrava as convenções do género, como comprovou na saga "Gritos", e tinha uma particular tendência para refletir nas consequências do sonho na vida real, sublinhadas de forma inesquecível em "Pesadelo em Elm Street".
Wes Craven nasceu em Cleveland, em 1939, e licenciou-se em Filosofia pela Universidade John Hopkins. Ainda foi professor de Ciências Humanas mas a paixão pelo cinema e o salário mais elevado falaram mais alto: começou por fazer pós-produção de som e depois ocupou-se da montagem, argumento e finalmente realização de vários filmes pornográficos nos anos 70, sempre sob pseudónimo.
Iniciou a sua atividade em nome próprio com a colaboração com Sean S. Cunningham (o futuro realizador de "Sexta-Feira 13") como assistente de realização de "Together", em 1971. No ano seguinte, estreou-se na realização de longas-metragens com o "exploitation-movie" "A Última Casa à Esquerda", com Cunnigham como produtor, sobre duas adolescentes torturadas por um grupo de criminosos. Em 1977, sempre como realizador, argumentista e montador, prosseguiu com "Os Olhos da Montanha", sobre uma família em férias perseguida por um família de selvagens. Apesar dos orçamentos quase nulos, os dois filmes foram muito notados pelos amantes do género e ganharam rapidamente a qualificação de clássicos de culto.
Após alguns trabalhos para a televisão, a profissionalização em pleno chegou com "A Benção do Anjo Negro", que realizou em 1981, já com Ernest Borgnine e uma ainda muito jovem Sharon Stone, seguindo-se no ano seguinte "Perigo no Pântano", adaptação da série de BD "Swamp Thing", da DC Comics.
Em 1984, chega o filme que lhe confere maior popularidade, "Pesadelo em Elm Street", que cruza sonho e realidade, um dos seus temas de eleição, e para o qual cria uma figura que se tornaria icónica: o assassino de luvas de metal Freddy Krueger. Foi também para esta fita, muito influente, que deu o primeiro papel no cinema a um jovem que viria a dar muito que falar: Johnny Depp.
Já coroado como mestre do terror, continuaria no cinema de género com "Os Olhos da Montanha 2", "O Amigo Mortal", "A Maldição dos Mortos-Vivos", "100.000 Volts de Terror" ou "Os Prisioneiros da Cave", até regressar a Freddy Krueger em 1994 no sétimo filme da saga, o muito elogiado "O Novo Pesadelo de Freddy Krueger", onde o real e o ficcional se encontram, com o assassino a invadir o mundo real e o realizador e os atores do original a interpretarem os seus próprios papéis.
Após a experiência falhada de trabalhar com Eddie Murphy em "Vampiro em Brooklyn", essa reflexão sobre os mecanismos do cinema de terror seria levada ao seu expoente máximo com "Gritos", que verbaliza e subverte todas as regras do género, que ele próprio ajudou a criar. O sucesso gigantesco levaria a mais três sequelas, sempre escritas e realizadas por Craven, em 1997, 2000 e 2011, no que seria o seu último filme.
Entretanto, em 1999, para surpresa generalizada, mudou completamente de registo e assinou o drama feminino "Melodia do Coração", que valeu uma nomeação ao Óscar de Melhor Atriz a Meryl Streep, regressando depois ao terror mais puro e duro, com o filme de lobisomens "Amaldiçoados" e com o elogiado mas sufocante "Red Eye". Em 2006, juntou-se aos 22 realizadores de várias nacionalidades que assinaram segmentos para o coletivo "Paris Je t'Aime".
Comentários