O realizador e argumentista morreu "pacificamente em sua casa" este sábado aos 77 anos, depois de um "breve período de doença", confirmou o seu agente em comunicado.
Natural de Liverpool, Terence Davies teve uma prestigiadíssima carreira de realizador e argumentista, na qual se destacam dois filmes com vários elementos autobiográficos que surgem consistentemente na lista dos melhores filmes britânicos de sempre: "Vozes Distantes, Vidas Suspensas", de 1988, e "Aqueles Longos Dias", de 1992, em que recua às décadas de 40 e 50 na sua cidade natal. Autor de obras sensíveis, discretas e delicadas, Davies era um dos mais elogiados cineastas britânicos, com uma capacidade ímpar de representar os pequenos dramas da vida real de forma singela e universal.
A carreira de Davies começou pelas curtas-metragens, com as autobiográficas "Children" (1976), "Madonna and Child" (1980) e "Death and Transfiguration" (1983) a conquistarem diversos prémios internacionais e a serem agregadas e lançadas em cinema com o título "The Terence Davies Trilogy".
"Vozes Distantes, Vidas Suspensas" também junta dois filmes sobre a classe operária britânica, rodados com dois anos de diferença, um sobre o dia a dia dominado por um pai abusivo (num papel que lançou para a ribalta Pete Postlehtwaite) e o segundo focado nos respetivos filhos. O filme tornou-se um clássico do cinema britânico, surgindo regularmente num dos lugares cimeiros das listas dos melhores filmes de sempre do país.
Seguiu-se em 1992 o muito elogiado "Aquele Longo Dia", retrato da vida de um garoto numa família católica de Liverpool na década de 50, que deu que falar no Festival de Cannes.
Após os relatos semi-autobiográficos, Davies lançou-se na adaptação cuidada de obras literárias: primeiro com "A Bíblia de Neon", de 1995, a partir de John Kennedy Toole, e cinco anos depois com "A Casa da Felicidade", baseado na obra de Edith Wharton, protagonizado por Gillian Anderson então no auge da fama decorrente da série televisiva "Ficheiros Secretos".
Com dificuldade em obter financiamentos, Davies estrearia o seu filme seguinte em 2008, o documentário "Of Time and City", em que regressa à Liverpool dos seus anos de juventude, assinando nova longa-metragem de ficção em 2011, o muito elogiado e premiado "O Profundo Mar Azul", com Rachel Weisz e Tom Hiddleston, adaptado do romance de Terence Rattigan.
Realizou ainda mais um adaptação literária, "Sunset Song", em 2015, a partir do livro de Lewis Grassic Gibbon, e ainda duas biografias de poetas, "A Quiet Passion", em 2016, sobre a americana Emily Dickinson, e "Benediction", estreado já em 2021, retratando o britânico Siegfried Sassoon.
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