O ator suíço Bruno Ganz, conhecido por papéis como o de Adolf Hitler em "A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich" (2004), morreu na madrugada de sábado em Zurique, aos 77 anos, na sequência de um cancro, anunciou a sua agente, Patricia Baumbauer.
"Sim, morreu hoje nas primeiras horas do dia", disse à AFP, confirmando a morte, anunciada pelo jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. "Tinha um cancro", acrescentou.
Uma das figuras mais proeminentes do cinema, televisão e teatro europeu nos últimos 50 anos, Bruno Ganz nasceu em Zurique em 1941 e era detentor do Iffland-Ring, o prémio atribuído há mais de 200 anos ao mais importante ator de teatro de língua alemã.
Foi membro do Teatro Goethe em Bremen, onde interpretou obras de Shakespeare, Ibsen e Brecht, tendo trabalhado com encenadores como Luc Bondy e Peter Stein, com quem fundou a companhia teatral Berliner Schaubühne, no início da carreira, na capital alemã, marco da dramaturgia contemporânea.
O trabalho que lançou a sua carreira no grande ecrã foi "Sommergäste" (1976, Peter Stein). Aproveitando a nova vaga de cineastas alemães que surgiram nos anos 1970 e também nomes europeus consagrados, celebrizou-se pelas colaborações com realizadores como Werner Herzog, que o colocou ao lado de Klaus Kinski em "Nosferatu, o Fantasma da Noite" (1979), Éric Rohmer ("A Marquesa d'O") e principalmente Wim Wenders, com o qual ganhou grande proeminência internacional graças a "O Amigo Americano" (1977) e como o anjo Damiel que, por paixão, decidiu transformar-se em homem, em "As Asas do Desejo" (1987) e "Tão Longe, Tão Perto" (1993).
Outros cineastas com quem trabalhou foram Francis Ford Coppola ("Uma Segunda Juventude", 2007), Theo Angelopoulos ("A Eternidade e Um Dia", 1998), Silvio Soldini ("Pão e Tulipas", 2000), Stephen Daldry ("O Leitor", 2008), Jonathan Demme (“O Candidato da Verdade”, 2004) e Ridley Scott ("O Conselheiro", 2013).
Os seus trabalhos mais recentes incluem "Comboio Nocturno Para Lisboa” (2013), de Bille August, "O Número" (2015), de Atom Egoyan, “Amnésia” (2015), de Barbet Schroeder, e “I Witness” (2018), de Mitko Panov.
Uma das suas últimas presenças será "Radgund", o filme de Terrence Malick que se encontra em pós-produção.
No entanto, foi a aclamada interpretação introspetiva de Hitler nos seus últimos dias num "bunker" no filme de Oliver Hirschbiegel "A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich" (2004) que se tornou a mais célebre a nível artístico e comercial.
Para a cultura popular ficou a cena viral em que o ditador explode de raiva ao perceber que não pode ganhar a Segunda Guerra Mundial, que teve direito a incontáveis versões com diferentes legendas sobre os temas mais díspares ao longo dos anos.
"A Cidade Branca" (1983, Alain Tanner) trouxe-o a Portugal: interpretava um mecânico naval que desembarca em Lisboa e alugava um quarto na zona ribeirinha, deambulando sem rumo pela cidade nos dias que se seguiam, neste filme onde contracenou com a atriz portuguesa Teresa Madruga e que foi, durante muito tempo, o filme mais emblemático de todos quantos foram rodados em Lisboa, que de certa forma quase era a protagonista.
Regressou por diversas vezes, para o Festival de Almada, para atuar na Culturgest, onde falou de Goethe, em 2002.
Trabalhou com o produtor português Paulo Branco e em 2015 foi um dos convidados de honra do Lisbon & Estoril Film Festival (LEFFEST), para acompanhar a retrospetiva dedicada ao cineasta alemão Wim Wenders, destacando nos encontros com o público o seu desempenho em “As Asas do Desejo”. O festival também premiou todo o seu percurso.
Em agosto do ano passado, o ator que gostava de contar histórias, e que gravou a poesia de TS Eliot e Holderlin, esteve em palco pela última vez, para ser o narrador da ópera "A Flauta Mágica", de Mozart, no Festival de Salzburgo, na Áustria.
Dos vários prémios com que foi galardoado, destacam-se o Leopardo de Ouro do festival internacional de Locarno, pelo conjunto da sua carreira, também distinguida pela Academia Europeia de Cinema.
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