O realizador Joel Schumacher faleceu esta segunda-feira de manhã (22) em Nova Iorque. Tinha 80 anos.
Apesar de ter passado por todos os géneros e ajudado a lançar as carreiras de alguns dos atores mais importantes desde a década de 1980, na história fica conhecido, justa ou injustamente, como o cineasta que assumiu a saga do herói da cidade de Gothan após Tim Burton fazer os grandes sucessos que foram "Batman" (1989) e "Batman Regressa" (1992).
Com uma marca distinta dos anteriores em termos de estilo, o primeiro, "Batman Para Sempre" (1995), com Val Kilmer (a suceder a Michael Keaton), Tommy Lee Jones, Jim Carrey e Nicole Kidman, foi outro grande sucesso.
Já o segundo, "Batman & Robin" (1997), com George Clooney a suceder a Val Kilmer e Arnold Schwarzenegger como o vilão Mr. Freeze, foi um desastre comercial que quase acabou prematuramente com a carreira do cinema do até então mais conhecido como o galã da série "Serviço de Urgência".
Nomeado para o pior realizador dos prémios Razzie, o cineasta assumidamente homossexual foi acusado de incorporar elementos homoeróticos na relação entre Batman e Robin (Chris O´ Donnell). Mais "camp" do que "dark", ficou para símbolo do desastre a decisão de colocar mamilos no fato do super-herói.
Nascido a 29 de agosto de 1939, Joel Schumacher passou por todos os excessos das décadas de 1960 e 1970 até chegar a ameaça da Sida. Pelas suas estimativas teria dormido com 20 mil pessoas de ambos os sexos.
A sua carreira começou de forma invulgar: formado em Design de Moda, trabalhou nesta área até aos 35 anos em Nova Iorque, quando percebeu que a sua paixão era o cinema.
Mudou-se para Los Angeles, onde começou a trabalhar no guarda-roupa de filmes como " O Herói do Ano 2000" (1973) e "Interiores" (1978), ambos de Woody Allen, enquanto estudava na Universidade de Los Angeles e ganhava experiência como argumentista em cinema e realizador na televisão.
O primeiro filme foi "The Incredible Shrinking Woman / Queridos, a mamã encolheu" (1981), mas a consagração em Hollywood chegou com uma trilogia formada por "St. Elmo's Fire / O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas" (1985), com muitos dos atores do grupo que ficou conhecido por "Brat Pack" (Rob Lowe, Demi Moore, Emilio Estevez, Ally Sheedy, Judd Nelson, Andrew McCarthy); "The Lost Boys / Os Rapazes da Noite" (1987), um filme de terror de culto com Corey Haim, Kiefer Sutherland, Jason Patric e Corey Feldman; e "Flatliners / Linha Mortal" (1990), novamente com Sutherland e ainda Julia Roberts, William Baldwin, Oliver Platt e Kevin Bacon.
Apesar do impacto dos filmes "Batman" e do sucesso do menor "A Escolha do Amor" (1991), onde voltava a dirigir Julia Roberts num filme romântico ensombrado por uma doença terminal, é nos anos 1990 que se encontram alguns dos trabalhos mais interessantes da sua carreira.
Neste período estão desde "O Cliente" (1994), com Susan Sarandon, Brad Renfro e Tommy Lee Jones, e "Tempo de Matar" (1996), com Sandra Bullock, Matthew McConaughey e Samuel L. Jackson; "Um Dia de Raiva" (1993), com Robert Duvall a perseguir um perturbado Michael Douglas por Los Angeles; e "8mm" (1999), uma invulgar entrada pelo mundo do cinema da pornografia violenta com Nicolas Cage e Joaquin Phoenix.
Mais frustrante neste período terá sido "O Destino de um Ex-Combatente" (1999), que desperdiçava os talentos de Robert De Niro e Philip Seymour Hoffman.
Após os filmes "Batman", uma carreira de altos e baixos
Após "Batman & Robin", Joel Schumacher afastou-se das grandes produções e daí resultaram dois filmes minimalistas que muitos colocam entre os melhores da carreira: " Tigerland - O Teste Final" (2000), que lançou a carreira de Colin Farrell, que reencontrou, tal como Kiefer Sutherland, em "Cabine Telefónica" (2002), um sucesso que o voltou a colocar nas boas graças de Hollywood.
Seguiu-se a fase menos interessante da carreira, com várias desilusões comerciais: "Más Companhias" (2002), uma comédia de ação com Anthony Hopkins e Chris Rock fiel ao modelo do produtor Jerry Bruckheimer; o pouco visto "Veronica Guerin / O Preço da Coragem" (2003), com Cate Blanchett; a mais visto (mas não o suficiente para evitar a desilusão nas bilheteiras) "O Fantasma da Ópera" (2004) a partir do musical de Andrew Lloyd Webber; "Número 23" (2007), com Jim Carrey num equívoco papel dramático; e "Town Creek", também conhecido por "Blood Creek" (2009), com Michael Fassbender, Dominic Purcell e Henry Cavill.
Os seus últimos trabalhos para o grande ecrã foram "Twelve" (2010), com Chace Crawford, que chegou a ser descrito como "o pior filme [apresentado] na história do [festival] Sundance" e um desastroso "Transgressão" (2011), indigno do talentos de todos os envolvidos, nomeadamente Nicolas Cage, Nicole Kidman e Ben Mendelsohn.
O pano sobre a carreira caiu com a realização dos capítulos 5 e 6 da primeira temporada de "House of Cards" em 2013, reencontrando Kevin Spacey, outro ator a quem dera uma das primeiras oportunidades de brilhar em "Tempo de Matar" (1996).
Em agosto de 2019, já num período em que a sua carreira estava a ser reavaliada com maior distanciamento de "Batman & Robin" e de forma mais positiva, deu uma extraordinária entrevista de "vida" à Vulture.
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