Jamie Foxx é um peso pesado da sua geração. Com um Óscar lá em casa (por «Ray», o biopic em que fazia de Ray Charles) e papéis em filmes como «Django Libertado» ou «Dreamgirls», só faltava ao ator entrar num franchise de super-heróis. Já tem o seu lugar como Electro, um vilão que é pura electricidade, em «O Fantástico Homem-Aranha 2», que esta semana chega aos cinemas portugueses.
Dane DeHaan é para muitos o miúdo de «Crónica», o filme de 2012 em que um grupo de alunos de liceu ganha super-poderes.
Os dois sentaram-se connosco num hotel de Paris, e nem o ar cansado das três semanas de promoção non-stop por todo o mundo os impediram de contar histórias embaraçosas de quem tem de usar fatos complexos.
Vocês são os vilões da história mas, como na maioria dos vilões de Homem-Aranha, começam como homens bons. Como foi interpretar esses dois lados?
Dane: É isso que torna o trabalho como ator divertido, não estamos só a interpretar maus da fita ou bons da fita, estamos a interpretar humanos. E os humanos que interpretamos têm acidentes e fazem escolhas erradas que, em última instância, os fazem seguir pelo caminho errado. Acho que é isso que torna o Homem-Aranha tão acessível.
Jamie: Eu começo a história como Max Dillon, um tipo inseguro, esquisito e
nerdy e depois desenvolvemos um arco em que o transformamos num super-vilão. Qualquer ator vos dirá que é nesse lugar que quer estar, especialmente num filme como este, que é
popcorn friendly. É diversão para a família mas temos aqui uma oportunidade de exercitar o nosso músculo da representação.
É sempre divertido ser o mau da fita mas, se pensarmos nisso, o bom da fita vai sempre continuar a ter trabalho.
O Dane participou num filme de super-heróis de pequeno orçamento («Crónica») e agora está num enorme blockbuster. De que forma são diferentes essas duas experiências?
Dane: O tempo que se tem e os recursos que temos ao nosso dispor são totalmente diferentes. Acho que filmámos o «Crónica» em oito ou nove semanas. Fizemos este filme em seis meses.
É um luxo ter tempo para nos prepararmos, ficar em forma, construir uma personagem e ter a certeza de que estamos a explorar todas as opções que temos. Para além disso, o Marc (Webb, o realizador) fez com a rodagem deste Homem-Aranha fosse uma experiência mais intíma do que alguma vez a do «Crónica» foi. Ele é um tipo muito porreiro, preocupa-se com os atores e em criar uma atmosfera muito íntima.
Que relação têm com as aranhas na vida real?
Jamie: Eu odeio aranhas. Eu moro numa zone campestre e uma vez ia a conduzir na autoestrada e apareceu-me uma aranha no carro. Quase que provoquei um acidente em cadeia com 24 carros.
Dane: Definitivamente não tenho uma raiva direcionada a aranhas como a que o Green Goblin tem. Não chegaria aos mesmos limites para garantir que uma aranha está morta. Não que as adore, assustam-me à séria, mas não passo a vida a ver se as mato todas.
O que foi preciso fazer para o transformarem fisicamente em Electro?
Jamie: Imagine uma coisa enorme cheia de cera derretida azul. Basicamente, mergulhavam-me lá dentro e eu ficava azul dos pés à cabeça. O processo demorava cerca de quatro horas e meia mas permitia que eu me transformasse num ecrã azul móvel e pudessem colocar os efeitos especiais em cima da minha interpretação.
Acho que a parte mais embaraçosa é sempre a ir à casa de banho. No meu caso, havia sempre alguém que falava sobre a minha anatomia. Chegou a acontecer eu estar ali vestido de spandex e pessoas estarem a sussurrar sobre o tema. Eu perguntava ‘O que é que se passa?’ e diziam-me ‘Jamie, temos de falar porque precisamos de esconder essa parte frontal’.
Dane: É uma espécie de enigma, esta coisa de se fazer uniformes para super-heróis. Toda a gente está sempre muito focada em desviar a atenção daquele sítio. Mesmo quando a equipa está feliz com o fato, continua a pensar como é que podemos fazer aquela área não parecer tão grande’.
Jamie: Eu só lhe pedia ‘mas digam lá’. E eles respondiam: ‘Jamie, não pode mesmo ser. Não conseguimos pôr efeitos digitais em cima disso’. Acabaram por ter de reforçar aquela zona do fato com borracha.
O Jamie parece estar a virar-se para filmes para a família?
Jamie: Para além deste filme, fiz também o remake do musical «Annie». Mas a escolha foi orgânica. Por exemplo, há um filme que querem que eu faça agora que não sinto que seja uma escolha natural. Lembro-me de uma vez a Ellen Barkin me dizer: ‘Se fores atrás do dinheiro dou cabo de ti’. E eu perguntei-lhe: ‘O que queres dizer com isso?’. E ela respondeu: ‘Não vás atrás do dinheiro, vai atrás do projeto’. É isso que vou tentar fazer.
Ela falou-me também do ‘período de graça dos sete anos’. Aparentemente, quando fazemos um filme bem sucedido e com muito impacto, podemos dar-nos ao luxo de não voltar a fazer outro durante sete anos.
A Sony está a preparar um spin-off de Homem-Aranha que reúne uma equipa de vilões, os «Sinister Six». Vocês já têm presença confirmada?
Dane: Não sei ainda o que vai acontecer mas acho que é óbvio, no final deste filme, que algo mais está para vir. Não sei ainda o que é mas espero que seja verde e elétrico (risos).
Jamie: Se pensarem nas propriedades da eletricidade, uma delas é que ela não morre. O que é interessante no Electro é que, mesmo na banda desenhada, ele cai no mar e fica ali morto mas, mais tarde, vemo-lo sempre voltar. Ele ainda nem começou a ser o Electro.
Por que acham que a personagem do Homem-Aranha é seguida por crianças logo desde muito novas?
Jamie: É como a Coca-Cola ou a pastilha elástica. Há alguns anos, perguntei à minha filha: ‘vais ver o filme do Homem-Aranha?’. E ela disse-me: ‘Pai, tenho de o ver’. Perguntei-lhe porquê e ela disse-me que toda a gente tinha de ir ver o Homem-Aranha.
Dane: Eu tinha todos os pijamas de super-heróis quando era pequeno. Tinha o do Homem-Aranha, o do Super-Homem. Foi nessa altura que comecei a representar e a usar a minha imaginação, enquanto me vestia como Homem-Aranha ou outros.
Ainda ontem à noite (na antestreia do filme em Paris), o Andrew (Garfield) falava sobre como o Homem-Aranha inspira os miúdos a serem heróis, mesmo que seja só junto da sua família e na sua comunidade. Há algo de muito bem intencionado e heróico naquilo que ele faz e acho que é isso que atrai as pessoas. Não é preciso ser-se um super-herói para se ser um herói. Podemos ser só pessoas normais e ser heróis.
Não perca esta quarta-feira a entrevista com o realizador Marc Webb.
O SAPO Cinema viajou a convite da Sony Pictures Portugal
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