“Não tenho assim um interesse tão grande em realizar, porque dá muito trabalho, porque não há assim tantos apoios, porque há muita falta de investimento e porque sobretudo eu gosto é mesmo de fotografar. É mesmo aquilo que me dá mais prazer. É a Fotografia”, admitiu.
Leonor Teles vai estar no Festival de Cinema de Locarno, que começa na quarta-feira na Suíça, com o filme de ficção “Baan”, na competição oficial. Durante a produção de “Baan”, assinou a direção de fotografia dos filmes “Azul”, de Ágata de Pinho, “By Flávio”, de Pedro Cabeleira, e o díptico “Mal Viver” e “Viver Mal”, de João Canijo.
“As pessoas têm e querem ser multifacetadas e trabalhar em muito mais áreas. Todo o trabalho em fotografia que tenho feito só enriqueceu o meu trabalho em realização”, disse Leonor Teles.
“Baan/Casa” foi rodado em Lisboa e em Banguecoque durante e depois da pandemia, seguindo os passos de L., uma jovem arquiteta, naquilo que Leonor Teles descreve como “uma viagem” pelas emoções daquela personagem interpretada por Carolina Miragaia.
O elenco conta ainda com a atriz canadiana Meghna Lall.
“As pessoas que vão ver o filme estão a acompanhar uma viagem, mais do que a viver uma narrativa, que existe. Estão mais a viver as emoções que a personagem está a sentir. (…) A personagem surge de mim, não se pode fugir a isso, é bastante claro”, afirmou Leonor Teles.
O argumento foi coescrito com Ágata de Pinho e Francisco Mira Godinho, mas Leonor Teles explica que todos os seus filmes "acabam por ser biográficos".
"Sempre trabalhei de um ponto de vista muito pessoal, através de coisas minhas, de assuntos que me inquietam, temas que me assombram. E este filme não seria assim tão diferente, de trabalhar em coisas que considero bastante pessoais", justificou.
Nessa jornada emocional da protagonista de “Baan”, Leonor Teles ainda aborda os problemas da sua geração, como a precariedade laboral, a habitação, o preconceito e gentrificação das cidades. E em tudo isso, o filme faz a ponte entre Lisboa e Banguecoque, onde Leonor Teles há muito queria filmar.
“Gosto muito de cinema asiático e sempre tive este desejo de filmar o sudoeste asiático, e quando conheci a Tailândia, para mim, foi muito claro que Banguecoque tinha esta aura de memória, nostalgia, um sítio de certa forma parado no tempo, mas ao mesmo tempo super-moderno e tinha uma série de contradições que achei que se enquadravam bastante bem no filme”, explicou.
Sobre Locarno, onde estará pela primeira vez como realizadora, Leonor Teles sublinha a importância de um festival de cinema.
“É sempre importante continuarem a existir lugares que apresentam um outro tipo de filmes, que deem alguma atenção e algum destaque a realizadores que trabalham de uma forma mais criativa e menos virada para um lado mais comercial e de entretenimento, e que explorem esses objetos que podem ser considerados uns óvnis. É bom existir diversidade nesta coisa a que todos chamamos cinema”, considerou.
“Baan/Casa”, produzido por Uma Pedra no Sapato, é o quinto filme realizado por Leonor Teles, desde que fez a curta-metragem, “Rhoma Acans” (2013), em contexto escolar.
“Balada de um batráquio” (2016) valeu-lhe o grande prémio de melhor curta do festival de Berlim, seguindo-se a longa documental “Terra Franca” (2018) e a curta “Cães que ladram aos pássaros” (2019).
No festival de cinema de Locarno, na competição internacional estará ainda a longa-metragem "Manga d'Terra", do realizador luso-suíço Basil da Cunha.
A curta-metragem "Nocturno para uma floresta", de Catarina Vasconcelos, está integrada na secção Pardi di Domani, onde também se encontram a animação "De Imperio", de Alessandro Novelli, e "Slimani", de Carlos Pereira.
Há ainda a destacar, na competição principal, as coproduções portuguesas "O auge do humano 3", do argentino Eduardo Williams, com a participação da Oublaum Filmes, e "Essential truths of the lake", do filipino Lav Diaz, que envolve a Rosa Filmes.
A 76.ª edição do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, vai decorrer de 02 a 12 de agosto.
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