Apesar de Paul Verhoeven ter abandonando Hollywood quando deixou de ter o controlo total sobre os seus projetos, a marca do cineasta holandês ainda se faz sentir.
Na última década, os grandes estúdios investiram muito dinheiro, principalmente em novas versões de "Desafio Total" e "Robocop", respetivamente com Colin Farrell e Joel Kinnaman, com resultados que não convenceram nem o público nem os críticos.
Passados nove anos, o protagonista da segunda versão falou com sinceridade sobre o que correu mal na produção que chegou aos cinemas em 2014, realizada pelo brasileiro José Padilha ("Tropa de Elite").
Num exercício de autocrítica, Joel Kinnaman acha que faltou o tom de sátira com que o filme original de 1987 abordou temas como o capitalismo e o sistema judicial. E olhando para trás, o ator de origem sueca gostaria de ter estado mais envolvido na parte criativa do projeto que teve uma produção turbulenta.
"Foi uma experiência gira. Se o fosse fazer agora, acho que me teria envolvido mais", disse ao ComicBook.com.
"Adoro o conceito do José. A única coisa, acredito, que faltou, e gosto de ser autocrítico e olhar para trás, é que foi um daqueles filmes em que senti que não levámos completamente em conta o que 'Robocop' significava para os fãs. Em termos de tom, aquele tipo de sátira do Verhoeven, porque está tão enraizada na franquia do 'Robocop' e no que representa", notou.
"É diferente quando um novo cineasta chega e coloca a sua voz nele, e o José tinha uma imagem muito clara do que queria fazer. Foi uma abordagem anti-imperialista. E acho que o filme teria corrido melhor se tivéssemos ouvido mais os fãs primeiro", explicou.
"Mas acho que funciona visto isoladamente. Quase penso que o 'Robocop' que fizemos teria sido um filme melhor se não se tivesse chamado 'Robocop'", concluiu.
Falando sobre o mesmo tema numa entrevista logo em 2016, Paul Verhoeven não se refugiou na diplomática desculpa de não ter visto as novas versões dos seus filmes e explicou que falharam porque... se levaram demasiado a sério.
"De alguma forma, eles [os estúdios] parecem achar que a ligeireza de 'Desafio Total' e 'Robocop' é um obstáculo. Portanto, pegam nestas histórias um tanto absurdas e tornam-nas demasiado sérias. Acho que isso é um erro", afirmou durante uma entrevista ao Collider.
"Especialmente em 'RoboCop' quando ele acorda, dão-lhe o mesmo cérebro. Ele é uma vítima horrivelmente ferida e amputada, o que é horrível e trágico logo à partida. Portanto, não fizemos isso no "RoboCop" [o original]. O seu cérebro desapareceu e ele apenas tem flashes de memória e precisa ir a um computador para descobrir quem é. Ao não ter um cérebro robótico, acho que se está a tornar o filme muito mais pesado e não ajuda de maneira nenhuma. Torna-se mais pateta ou absurdo, mas da forma errada. Ambos os filmes precisavam do distanciamento da sátira ou comédia para os situar para os espectadores. Fazê-los a sério sem qualquer humor é um problema e não um progresso", explicou.
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