As declarações incendiárias de
Lars von Trier na conferência de imprensa de apresentação do seu mais recente filme,
«Melancholia», no Festival de Cinema de Cannes,
tornaram-se o maior escândalo do evento. O realizador dinamarquês afirmou despreocupadamente compreender Adolf Hitler e ironizou que também ele era nazi, aparentemente sem compreender que a formulação atrapalhada das suas ideias não tinha sido a mais feliz.
O cineasta pediu desculpa algumas horas depois mas não se livrou da decisão do festival em torná-lo «persona non grata, com efeitos imediatos». A tradução prática dessa sentença, para já, é a de que o realizador não poderá voltar a entrar no Palais des Festivals, centro nevrálgico do certame, embora o seu filme continue na corrida à Palma de Ouro. De qualquer forma, mesmo que a ganhe, von Trier não poderá ir lá recolhê-la.
O realizador já afirmou, por via de uma das suas promotoras, que aceita a punição, mas o britânico
«The Guardian» citou uma entrevista do jornal dinamarquês «Ekstra Bladet» em que von Trier assume estar «orgulhoso de ter sido declarado «persona non grata». Talvez esta tenha a primeira vez na história do cinema que isso aconteceu», afirmando ainda que «acho que uma das razões do sucedido é que os próprios franceses trataram mal os judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Por isso é um assunto sensível para eles. Eu respeito muito o Festival de Cannes, mas percebo que eles agora estejam muito zangados comigo».
Entretanto, Lars von Trier parece continuar a ronda de entrevistas promocionais do filme em Cannes, embora
Charlotte Gainsbourg, uma das protagonistas de
«Melancholia», tenha cancelado todas em cima da hora. O avançado estado de gravidez da actriz tem sido a razão apontada, embora haja quem sugira que a verdadeira razão terão sido as raízes judias da intérprete, o que a deixaria desconfortável para defender o trabalho do cineasta quando fosse inevitavelmente chamada a opinar sobre as polémicas declarações do realizador.
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