Julian Assange recuperou bem após sair da prisão no ano passado, disse a sua esposa à France-Presse (AFP) antes da estreia de um documentário na quarta-feira, que inclui imagens inéditas.

O fundador da Wikileaks está no Festival de Cannes para promover o documentário do cineasta americano Eugene Jarecki, que disse estar a tentar apresentar uma nova imagem do australiano e das suas "qualidades heroicas".

No entanto, o antigo 'hacker' de 53 anos não está a falar com a municação social, com a sua esposa, Stella Assange, a dizer: "Falará quando estiver pronto".

"Vivemos com uma natureza incrível à nossa porta (na Austrália). O Julian gosta muito de atividades ao ar livre. Sempre gostou. Recuperou muito física e mentalmente", disse a advogada hispano-sueca à AFP.

Assange foi libertado de uma prisão britânica de alta segurança em junho do ano passado, após um acordo judicial com o governo dos EUA sobre o trabalho da Wikileaks na publicação de informações militares e diplomáticas ultrassecretas.

Passou cinco anos atrás das grades lutando contra a extradição do Reino Unido e outros sete refugiado na embaixada do Equador em Londres, onde solicitou asilo político.

Festival de Cannes a 20 de maio de 2025: o realizador Eugene Jarecki, a produtora Kathleen Fournier, Julian Assange, Stella Assange e Jennifer Robinson, advogada dos Direitos Humanos que começou a defender o fundador da WikiLeaks em outubro de 2010

O premiado realizador Eugene Jarecki diz que o seu filme, "The Six Billion Dollar Man" ["O Homem de Seis Mil Milhões de Dólares", em tradução livre], visava corrigir o histórico sobre Assange, cujos métodos e personalidade ainda o tornam uma figura controversa.

"Acho que o Julian Assange se colocou em risco pelo princípio de informar o público sobre o que corporações e governos à volta do mundo estão a fazer em segredo", disse à AFP.

"Acho que se terá de olhar para essa pessoa como alguém com qualidades heroicas", acrescentou, a propósito de quem está disposto a trocar anos da sua vida pelos seus princípios.

O filme inclui imagens privadas cedidas por Stella, que inicialmente se juntou à Wikileaks como consultora jurídica e teve dois filhos com Assange enquanto ele morava na embaixada equatoriana.

Também apresenta depoimentos de pessoas que ajudaram a espiar a Wikileaks, incluindo um agente de segurança privada que disse ter instalado escutas para serviços de espionagem americanos na embaixada equatoriana.

Pamela Anderson, a ex-atriz de "Marés Vivas"" e amiga de Assange, e o colega denunciante Edward Snowden também aparecem no documentário.

As críticas

Jarecki rebateu algumas das críticas a Assange, notavelmente a de que ele colocou vidas em risco ao publicar telegramas diplomáticos americanos não editados com os nomes de informadores, incluindo ativistas de direitos humanos.

Também descartou qualquer ligações entre a Wikileaks e os serviços de inteligência russos em relação à divulgação de e-mails do Partido Democrata antes das eleições presidenciais norte-americanas de 2016, que envergonharam a candidata democrata Hillary Clinton.

Uma investigação conduzida pRobert Mueller, procurador especial dos EUA, que investigou a alegada interferência russa na votação de 2016, encontrou indícios de que a inteligência militar russa invadiu de forma informática o Partido Democrata e passou as informações à Wikileaks.

"Além das informações de pessoas do Partido Democrata, nunca encontrámos nenhum indício de quaisquer ligações entre a Wikileaks e a Rússia", afirmou Jarecki.

Rafael Correa, antigo presidente de esquerda do Equador, que ofereceu asilo a Assange na embaixada do país em Londres, irá comparecer à estreia do filme na passadeira vermelha na noite de quarta-feira.

Na segunda-feira em Cannes, Jarecki recebeu o primeiro Globo de Ouro para Melhor Documentário, numa parceria com a Artemis Rising Foundation, pelos seus trabalhos anteriores, incluindo "The King", o seu filme de 2018 sobre Elvis Presley.