Joaquin Phoenix e Lady Gaga protagonizam uma história de amor perturbadora e musical na segunda parte da história de Arthur Fleck e Joker, na sombria e subversiva sequela de "Joker", novamente realizada, co-escrita e produzida por Todd Phillips.

Acompanhando o lançamento mundial, a estreia portuguesa de "Joker: Loucura a Dois" é esta quinta-feira e será difícil de escapar: está em cerca de 75 cinemas e multiplicam-se as sessões em mais do que uma sala.

Com o título original "Joker: Folie à Deux", a sequela assume riscos, aumentando a aposta com a aparição da personagem de Harley Quinn de Gaga e surpresas que poderão ser polémicas para os fãs da DC Comics e os que conhecem bem o mais popular arqui-inimigo de Batman.

A expectativa é elevadíssima: exatamente há cinco anos, em 2019, "Joker" tornou-se o primeiro filme com classificação para adultos a arrecadar mais de mil milhões de dólares nas bilheteiras de cinema mundiais, mesmo sem estrear na China. Em Portugal, onde liderou as bilheteiras durante sete fins de semana consecutivos, num domínio não se via desde "Avatar" entre 2009 e 2010, conquistou 915.593 espectadores no grande ecrã: um sexto lugar no ranking dos mais vistos desde 2004.

"Joker" (2019)

Alimentado pelo boca a boca entre os espectadores, o filme tornou-se um inesperado e desconcertante fenómeno cultural: a história sobre como a rejeição contribuiu para transformar um comediante falhado no famoso vilão da DC Comics foi o pretexto para debates sobre a realidade social, económica e psicológica.

Em paralelo, o Leão de Ouro no Festival de Veneza foi o início de uma jornada triunfal na temporada de prémios, culminando em 11 nomeações para os Óscares, incluindo para Melhor Filme, ganhando dois: Melhor Ator para Phoenix pela interpretação do comediante fracassado que se torna um criminoso psicótico, e Banda Sonora para Hildur Guðnadóttir.

Os elogios foram unânimes para Joaquin Phoenix, que apareceu no ecrã como uma personagem lunática, extremamente magra e inquietante, mas o sucesso de "Joker" não foi consensual, com muitas críticas à sua violência niilista ou a representação da doença mental.

RECORDE O TRAILER DE "JOKER".

Embora sempre tivesse sido pensado como um filme isolado, o sucesso esmagador a todos os níveis levou a uma rápida mudança de estratégia de todos os envolvidos: após vários desmentidos, a sequela foi oficialmente confirmada no verão de 2022 e a rodagem decorreu entre dezembro e abril de 2023.

O preço não ficou barato: para Phoenix, o salário terá disparado pelo menos dos 4,5 para 20 milhões de dólares. E claro, Phillips, Gaga e outros talentos também não ficaram baratos. Fala-se ao todo em 200 milhões de dólares, em contraste com os 70 milhões do orçamento do primeiro filme.

A rodagem também foi muito menos discreta: foram meses a alimentar as expectativas com fotografias partilhadas pelo realizador nas redes sociais e as dos paparazzi nas filmagens em exteriores nas cidades de Los Angeles e Nova Iorque, a fazer da cidade de Gotham.

"Joker: Loucura a Dois"

A nova história mostra Arthur Fleck institucionalizado na prisão de Arkham, à espera de ser julgado pelos seus crimes como Joker no primeiro filme.

"Enquanto luta contra a sua dupla personalidade, Arthur não só encontra o amor verdadeiro, mas também a música que sempre esteve dentro dele", acrescenta a sinopse oficial, numa referência ao que Phillips chamou “um filme onde a música é um elemento essencial”, que inclui danças e várias reinterpretações de canções bem conhecidas, incluindo “That’s Entertainment”, interpretados ao vivo.

“Arthur é estranho, indiferente e distante, todas essas coisas, mas ele tem música dentro dele, ele tem graciosidade”, explicou o realizador numa entrevista.

“Isso influenciou muito a dança do primeiro filme… portanto não pareceu um grande passo o que fizemos aqui. É diferente, mas acho que fará sentido quando o virem”, notou.

Lady Gaga e Joaquin Phoenix no Festival de Veneza em setembro

Zazie Beetz regressa como a vizinha de Arthur Fleck e as principais novidades no elenco são os nomeados aos Óscares Catherine Keener e Brendan Gleeson, além de Jacob Lofland (da série "The Sun") e Harry Lawtey (a revelação da série "Industry").

Lady Gaga opta por fazer neste novo filme sombrio e pessimista o que sabe fazer de melhor: cantar. A sua Harley Quinn é diferente da versão sexy e enlouquecida vivida por Margot Robbie em "Esquadrão Suicida" (2016): aqui é uma mulher desequilibrada internada na mesma prisão que o Joker e quando os dois são colocados no mesmo grupo de presos para cantar, o romance explode.

O julgamento é, claro, transmitido pela TV, enquanto nas ruas da cidade caótica cresce o apoio ao Joker. Mas esta personagem apática, submetida a um tratamento brutal na prisão, agora tem um novo motivo para se revoltar: está apaixonado.

Todd Phillips na rodagem com Lady Gaga e Joaquin Phoenix

O filme parece querer acusar a sociedade de criar os seus próprios monstros, em parte como produto do voyeurismo.

"Os filmes tendem a ser um espelho da sociedade. Acho que, na altura, parecia muito adequado. Mas em termos deste filme [...] queríamos correr riscos e a questão era: o que poderíamos fazer de realmente diferente, fazer algo tão surpreendente como a primeira parte", afirmou Phillips na antestreia mundial, novamente no Festival de Veneza, no mês passado, de onde desta vez saiu sem prémios.

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