James Ellroy assumiu pela primeira vez de forma clara que detesta o filme "L.A. Confidencial".
O escritor juntou-se assim a um "clube" que assume o grande descontentamento com adaptações das suas obras ao cinema aclamadas pela maioria das pessoas e até premiadas. Um dos mais famosos membros é, claro, Stephen King, que não suporta a versão que Stanley Kubrick fez do seu "The Shinning" em 1980.
Em breves declarações que se tornaram virais no Festival de Livros de Los Angeles, citadas pela revista Variety, o escritor norte-americano falou do filme de 1997 realizado por Curtis Hanson: "As pessoas adoram o filme 'L.A. Confidencial'. Acho que é um flop de primeira categoria [uma tradução aproximada do original 'turkey of the highest form', ou um 'mau filme de primeira categoria']. Acho que o Russell Crowe e a Kim Basinger são impotentes".
Muitos fãs discordaram de James Ellroy nas redes sociais e até expressaram a sua revolta pelo que ele acrescentou a seguir: "O realizador morreu, portanto agora posso arrasar o filme".
Nem Russell Crowe, muito ativo nas redes sociais, nem outras pessoas ligadas ao filme reagiram aos comentários.
"L.A. Confidencial" é o filme mais famoso e consensualmente visto como o grande triunfo artístico da carreira de Curtis Hanson, falecido em setembro de 2016.
Sombria história do crime, corrupção na polícia e glamour na Los Angeles da década de 1950, a história cruzava as vidas de três polícias (Kevin Spacey, Russell Crowe e Guy Pearce), uma prostituta (Kim Basinger), um chulo milionário (David Strathairn), um jornalista de escândalos sem preconceitos (Danny DeVito) e um comissário de polícia ético (James Cromwell).
No ano que foi do domínio esmagador de "Titanic" (11 Óscares), foi nomeado para nove estatuetas e ganhou duas: Curtis Hanson partilhou com Brian Helgeland o prémio de Melhor Argumento Adaptado e Kim Basinger foi considerada a Melhor Atriz Secundária.
Aquando da morte do realizador, James Ellroy escreveu uma evocação na Variety que equilibrava elogios com reservas pelo seu trabalho: “O Curtis tratou-me com respeito e deferência em todos os momentos. Respondi na mesma moeda e não me intrometi na produção do filme em si. 'L.A. Confidencial' viria a ser muito elogiado e homenageado e é devidamente visto como o melhor filme policial americano da sua era. Acho o filme problemático e emblemático da disjunção de Curtis Hanson. O que eu não sentia, eu admirava. O que perdi em ressonância emocional, recuperei numa perícia de tirar o fôlego".
Assumindo que o seu “sentido dramático” esteve “sempre em desacordo” com a visão do realizador, notava: "Não tinha importância. Não faço filmes, o Curtis Hanson não escrevia romances. Ele deu-me o presente das minhas palavras numa luminosa nova forma".
Noutro festival literário em 2019, ia mais longe sobre o que achava do filme: "É tão profundo como uma tortilha".
"E se viram a ação do filme, dramaticamente não faz sentido. Não me interessa quantos prémios ganhou. Não gosto da maioria das interpretações", notava.
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