Um dos maiores eventos cinematográficos da capital, o IndieLisboa arranca esta quarta-feira (20) e decorre até 1 de maio.
Culturgest, cinema São Jorge, Cinemateca e Cinema Ideal acolhem a maior parte da programação, que passa ainda ainda por outros eventos e espaços. No total serão exibidos perto de 300 filmes entre curtas e longas-metragens de ficção e documentais.
O festival abre com “Love & Friendship”, de Whit Stillman e encerra com “L’Avenir”, de Mia Hansen-Love, ambos homenageados da secção Herói Independente no ano passado.
Em 2016, essas honras cabem ao realizador holandês Paul Verhoeven, ao cineasta Jean-Gabriel Périot e ao ator Vincent Macaigne, ambos franceses.
Outro destaque é a maratona da secção Boca do Inferno, que durante uma longa noite de sexta-feira às portas do Bairro Alto, no Cinema Ideal, vai exibir mais de seis horas ininterruptas de cinema.
Cinema de autor e elitismos
Iniciado a partir de ciclos de cinema independente realizados no antigo Cine Estúdio 222, o festival transformou-se numa grande estrutura que, no ano passado, reuniu entre 30 e 40 mil espectadores.
A afluência do público para um estilo de cinema que enfrenta dificuldades no circuito comercial demonstra um certo 'glamour' do próprio evento.
“O festival não é elitista”, defende um dos diretores, Carlos Ramos. “É fácil criar uma empatia, o IndieLisboa é informal e agradável e há sempre muita coisa a acontecer – eventos para profissionais, para crianças, festas à noite”, observa.
No centro do Indie está, obviamente, o cinema de autor – uma forma de se fazer cinema nem sempre compreendida pelo grande público – para além de várias dificuldades em chegar até ele.
“É claro que quem não está habituado pode sentir alguma estranheza. Mas quando pensamos na programação imaginamos que ele seja acessível a toda a gente”, continua o mesmo responsável.
Se o festival existe é porque, contra todas as evidências e discursos reacionários, o cinema de autor continua a ser feito.
“Isto deve-se ao empenho dos artistas”, diz Ramos. “No caso português, por exemplo, temos uma tradição de resistência ao cinema comercial”.
O sucesso dos filmes de Miguel Gomes e Pedro Costa, por seu lado, reforçam o desejo dos jovens cineastas de seguir estas pegadas.
Paul Verhoeven, o herói independente
O cineasta holandês terá todos os seus filmes exibidos na Cinemateca e será objeto de debates na secção “Lisbon Talkies”.
Trata-se de uma escolha singular: Verhoeven, mesmo no seu país, sempre trabalhou no cinema “comercial” – embora isso, nem de longe, queira dizer que se adaptasse a ele. Mais vale dizer que foi o contrário.
“Apesar da sua carreira em Hollywood, ele foi sempre um autor e os seus filmes são muito críticos e reivindicativos. Estou muito curioso sobre a reação do público”, argumenta Ramos, referindo ainda que este era um projeto antigo do IndieLisboa que se arrastou pela dificuldade em reunir todas as obras.
Maratona da Boca do Inferno
Um único bilhete vai dar acesso a seis horas e meia de filmes: essa é a ideia implícita na maratona da secção Boca do Inferno, que vai decorrer na sexta-feira (22), a partir da meia-noite, no cinema Ideal – mesmo às portas do boémio Bairro Alto.
“A ideia é recuperar aquelas antigas sessões do cinema Quarteto, que permitia ao público ficar na sala a noite toda”, conta Ramos.
O conteúdo é “apropriado”: criada no ano passado, a Boca do Inferno segue algumas tendências do cinema alternativo trazendo um cocktail de terror, gore, sexo e a exploração de outros territórios.
“São filmes para não deixar ninguém indiferente”, diz o diretor do festival.
Caberá a “The Witch”, filme de terror que causou sensação em Sundance, as honras da abertura.
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