Greta Gerwig, presidente do júri do 77.º Festival de Cannes, celebrou esta terça-feira a mobilização feminista gerada pelo movimento #MeToo, um sinal de que “as coisas não pararam” no mundo do cinema.
Em plena polémica em Cannes sobre as denúncias de abusos no cinema francês, a atriz e realizadora norte-americana elogiou as “numerosas mudanças concretas” que ocorreram na indústria cinematográfica graças ao movimento.
“Há 15 anos, não poderia imaginar que haveria tantas mulheres representadas no mundo do cinema”, declarou Gerwig durante a conferência de imprensa do júri, horas antes do início oficial do festival.
AS ESTRELAS NA PASSADEIRA VERMELHA DA SESSÃO DE ABERTURA
No ano passado, a cineasta americana de 40 anos tornou-se a primeira mulher a dirigir sozinha um filme, "Barbie", que ultrapassou os mil milhões de dólares nas bilheteiras.
Perante as acusações públicas no cinema francês, que segue o rasto gerado pelo escândalo do produtor Harvey Weinstein, Gerwig disse: “As coisas não pararam, continuaremos a debater e a procurar como queremos que seja a nossa indústria e o nosso cinema”.
Entre as “mudanças muito concretas” que já ocorreram no cinema americano nos últimos anos está o uso de coordenadores de intimidade nos sets para ajudar a preparar as cenas de sexo entre os atores.
“Vejo isso exatamente da mesma forma que os coordenadores de cenas arriscadas ou de combates”, acrescentou, dizendo que os coordenadores de intimidade fazem “parte da construção de um ambiente seguro”.
O ator francês Omar Sy, também membro do júri, comemorou a presença de “cada vez mais mulheres que têm coragem de dizer coisas”.
“Há alguns anos [às vítimas] foi dada voz e isso tem continuado desde então, por isso é um bom sinal, o debate continua”, estimou.
O cineasta espanhol Juan Antonio Bayona, por outro lado, foi cauteloso quanto à culpabilização excessiva do mundo do cinema.
“Não é um problema que afete o cinema em particular e estamos aqui para avaliar os filmes”, disse o autor do recente sucesso "A Sociedade da Neve".
Esta edição de Cannes começa em plena tensão por causa das denúncias contra personalidades específicas do cinema francês.
Uma investigação da revista Elle baseada em testemunhos anónimos de aspirantes a atrizes denunciou o importante produtor Alain Sarde, atualmente com 72 anos, alegadamente autor de violações e agressões sexuais durante décadas.
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