«A Mãe e o Mar» é o primeiro dos quatro filmes encomendados pelo programa cultural O Estaleiro que estreiam na 21ª edição do festival internacional de cinema Curtas de Vila Conde. O filme fixa um «caso único na costa portuguesa, de mulheres arrais mas também de mulheres que vão ao mar que são pescadores e algumas delas com carta de arrais, que podem comandar as embarcações», contou à agência Lusa o realizador.
O universo do mar não é estranho a
Gonçalo Tocha que em 2011 estreou o filme
«É na Terra, Não é na Lua», que retrata o quotidiano da mais pequena ilha dos Açores, o Corvo.
A história das mulheres de Vila Chã, a norte de Vila do Conde, que iam pescar com os homens foi o que atraiu Gonçalo Tocha que afirma que «no mundo», pelo que conseguiu pesquisar, «só existem mais cinco ou seis casos isolados» similares.
O realizador acredita esta era «uma das poucas oportunidades para filmar» uma tradição quase extinta, pois a única «pescadeira» que encontrou foi Glória, a última da cerca de 30 ou 40 que existiram durante o século XX. Mas também de 120 barcos de pesca artesanal sobram hoje oito.
«É um tesouro que se passou ali» e a comunidade de pescadores «são testemunhas desse tesouro», afirma Gonçalo Tocha que partiu para realizar uma curta e acabou por fazer um filme, com 83 minutos.
«Eu não sabia que ia ser uma longa, só ao fim do primeiro mês de rodagem, com o material todo senti que tinha a possibilidade de aprofundar, que o mergulho tinha que ser mais profundo».
Segundo o realizador, o filme produzido por Dario Oliveira foi construído à medida que foi trabalhando com um grupo de 10 pessoas, recriando «hábitos que estão quase a extinguir-se». O resultado, afirma Gonçalo Tocha é um «mergulho das 20 000 léguas submarinas, uma a apneia muito profunda, um filme um bocado duro. Não há música, aquilo é um mergulho puro e duro e é para quem consegue respirar».
O próprio realizador afirma que ainda não conseguiu recuperar do processo de filmagem, em dois meses, e da montagem e só com a estreia, na companhia dos pescadores de Vila Chã é que vai perceber qual vai ser o percurso deste filme.
«Só depois de Vila do Conde é que vou saber o que é, ainda não sei. Acabei esta montagem do filme a semana passada e estou muito a quente, só quando vir em grande é que vou saber».
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