O ator Malcolm McDowell não só se arrependeu como detestou durante muito tempo "Laranja Mecânica" (1971), o seu trabalho mais recordado no cinema.
Explorando temas como a delinquência juvenil, a natureza do mal e a aplicação da justiça, o legado inicial do filme de Stanley Kubrick foi desagradável, acabando banido de vários países por causa das controvérsias e responsabilizado por vários atos de violência. O próprio realizador pediu para que fosse retirado dos cinemas britânicos em 1973.
Agora com 78 anos, o ator será sempre recordado pelo papel do jovem delinquente Alex DeLarge, que liderava um bando de sociopatas numa Inglaterra distópica.
"Fiquei ressentido nos primeiros dez anos depois de o fazer. Estava farto dele. Não queria falar sobre a p**** da coisa, estava cansado daquilo. Disse 'Vejam, sou um ator, tive a oportunidade de interpretar um grande papel, estou a seguir em frente'", recordou Malcolm McDowell numa entrevista à revista New Musical Express que assina os 50 anos da estreia.
"Depois acabei por perceber que era uma obra-prima e eu era muito, muito parte disso. Mais valia aceitar e desfrutar", acrescentou.
A entrevista recorda a experiência de uma rodagem que deixou Malcolm McDowell "totalmente exausto emocionalmente e também fisicamente", com destaque para a famosa sequência em que os seus olhos são presos por um aparelho, sem poder piscar, enquanto a sua personagem vê imagens de violência, uma lavagem cerebral para o "curar" dos seus perversos instintos.
A rodagem dessa cena não correu exatamente como tinham descrito e o ator chegou a ficar temporariamente cego por causa de uma córnea arranhada.
Pior, uma semana depois foi necessário rodá-la outra vez porque Kubrick precisava de um grande plano do olho.
"E claro que arranharam as minhas córneas [outra vez], nada como da primeira vez mas sabia que ia acontecer. Isso foi uma tortura porque sabia o que esperar... mas, sabe que mais, valeu a pena", reconheceu.
Com os 50 anos e o filme já reabilitado e reinterpretado sobre as suas intenções, Malcolm McDowell está muito mais confortável com o seu legado e se ter tornado o "símbolo da maldade distópica".
"'Laranja Mecânica' encontrou sempre um público. teve sempre a próxima geração de miúdos que vão para a universidade, descobrem o filme – e ele torna-se um ritual de passagem. Faz-se um filme como esse, é histórico e fecha-se num cofre. Não se pode viver disse e sem dúvida que sou uma pessoa muito diferente da que era quando o fiz. Era um miúdo. Mas se estou feliz por o ter feito? Absolutamente. É notável", concluiu.
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