Foi divulgado o trailer legendado de "Som da Liberdade", o filme sobre tráfico de menores que se tornou um inesperado sucesso de bilheteira e abriu outra guerra cultural nos EUA no último verão.
Com estreia portuguesa anunciada para 21 de dezembro, Jim Caviezel, que ganhou fama como o protagonista de "A Paixão de Cristo" em 2004, interpreta como um herói o ex-agente especial de Segurança Nacional americano Tim Ballard, que, em 2013, comandou a "Operation Underground Railroad" para resgatar crianças de traficantes de uma rede de exploração sexual.
TRAILER.
Rodado em 2018 com fundos de investidores mexicanos e ainda com a vencedora do Óscar Mira Sorvino, "Som da Liberdade" custou 14,5 milhões de dólares e arrecadou 184 milhões de dólares durante o verão só nos salas de cinema da América do Norte, mais do que "Indiana Jones e o Marcador do Destino" (174,48) e "Missão Impossível -Ajuste de contas: Parte 1" (172,13).
O filme gerou uma nova guerra cultural nos EUA, tornando-se uma causa notável para figuras da direita norte-americana, desde o intelectual canadiano Jordan Peterson ao comentador político e locutor Ben Shapiro, passando pelo ex-presidente Donald Trump.
Os conservadores fizeram rasgados elogios por se dirigir a um setor trabalhador americano que, segundo eles, tem sido ignorado pelas elites de Hollywood.
Por sua vez, os liberais classificaram-no como uma ferramenta de recrutamento da extrema direita que promove as teorias da conspiração do movimento QAnon sobre uma seita de pedófilos de Hollywood e um Partido Democrata que, alegadamente, sequestra crianças e extrai o seu sangue.
As críticas também colocaram em lados opostos os meios de entretenimento tradicionais e o público cinematográfico: no 'site' agregador de críticas Rotten Tommatoes, as audiências concederam-lhe uma pontuação quase perfeita de 99%, enquanto a crítica especializada ficou pelos 58%.
Nos meios de renome, como a Variety, The New York Times e The Guardian, as reações críticas foram maioritariamente negativas, com o filme a ser classificado como "parecido com o QAnon" ou simplesmente irritante.
Em setembro, o ativista interpretado por Jim Caviezel foi acusado de má conduta sexual.
Numa investigação publicada pelo Vice, sete mulheres acusaram Tim Ballard de coerção durante as missões secretas no estrangeiro para resgatar crianças dos traficantes das redes de exploração sexual.
Segundo as alegações, o fundador da "Operation Underground Railroad", casado e com nove filhos, pressionava as mulheres a partilharem a cama com ele ou tomarem banho juntos para convencer os traficantes que eram casados.
Ballard também terá enviado a uma mulher uma fotografia onde aparece apenas em roupa interior e com tatuagens falsas. A uma outra terá perguntado "até onde ela estava disposta a ir” para salvar crianças.
Numa rara repreensão pública, a Igreja Mórmon a que Ballard pertence emitiu um comunicado em que o acusava de abusar da confiança do seu presidente para benefícios pessoais e "atividades vistas como moralmente inaceitáveis", sem especificar.
Sem entrar em detalhes, o ativista, que a imprensa garante ter a ambição de se candidatar ao Senado dos EUA pelo Partido Republicano, disse à Vice que se tratava de uma conspiração contra ele e questionou se foi mesmo a Igreja a emitir o comunicado: "Não é verdade, nada do que ouviram é verdade. Algo maligno está a acontecer. Ainda não sei o quê".
Numa declaração à revista, a própria "Operation Underground Railroad" anunciou que Ballard renunciou a 22 de junho [duas semanas antes da estreia do filme nos EUA] e "se separou permanentemente", acrescentando que a organização "se dedica a combater o abuso sexual e não tolera o assédio sexual ou a discriminação por parte de qualquer pessoa".
Uma firma independente de advogados também foi contratada para "investigar detalhadamente todas as alegações relevantes".
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