Filmes portugueses produzidos durante a ditadura do Estado Novo integram a seleção de mais de três dezenas de obras, nacionais e estrangeiras, que serão musicadas ao vivo, na 6.ª edição do Film Fest, que começa quinta-feira em Setúbal.
Entre os filmes portugueses selecionados para o festival, que decorre até dia 3 de novembro, está um documentário sobre Setúbal em 1956, de Fernando de Almeida, bem como dois documentários dos anos 30 do século passado, de Virgílio Nunes, “Setúbal Panorâmica e Monumental” e “Setúbal, suas indústrias”, que exaltam a cidade e a sua cultura industrial, com a narrativa propagandista do Estado Novo.
Segundo o vereador da cultura da Câmara de Setúbal, Pedro Pina, “a 6.ª edição do festival com filmes musicados ao vivo, organizada pelo município sadino, propõe-se partilhar com o público filmes clássicos e modernos, em que as bandas sonoras são interpretadas ao vivo, algumas de forma improvisada, numa experiência única para os sentidos".
Os filmes sobre Setúbal, que serão exibidos a partir das 16h00 de dia 2 de novembro, no Fórum Municipal Luísa Todi, e musicados ao vivo por Pedro Caldeira Cabral (guitarra portuguesa), em conjunto com Duncan Fox (contrabaixo), constituem um dos motivos de interesse do certame.
Para o músico e compositor Pedro Caldeira Cabral, trata-se de um “desafio aliciante" em que houve a preocupação de encontrar um reportório que se adequasse e que permitisse estabelecer um “diálogo com o ambiente dos filmes, que são muito curtos – entre um e dez minutos – e em que é preciso coordenar as performances dos músicos com os próprios filmes para poder criar nas pessoas uma sensação de maior identificação”.
“Os documentários são de grande beleza, esteticamente são de facto muito bonitos, têm até, curiosamente e paradoxalmente, uma certa ligação com a estética neorrealista, que se opunha ideologicamente à propaganda do Estado Novo”, salientou o músico e compositor português.
“Mas são de facto um conjunto vastíssimo de temas que são abordados, desde a cerâmica, a produção do cimento, a produção dos adubos químicos, o porto de Setúbal e a sua atividade, a indústria da pesca, a pesca da sardinha, o fabrico das conservas, enfim, um conjunto de temas muito diversos, que obriga a um esforço grande de coordenação entre a parte musical e os filmes”, acrescentou Pedro Caldeira Cabral.
O Film Fest Setúbal 2024 arranca às 21:30 de quinta-feira, no Fórum Municipal Luísa Todi, com os Expresso Transatlântico, que dão vida a três obras de Sergei Eisenstein: “A Dança das Cabeças”, “Festa da Virgem de Guadalupe: imagens fotográficas” e “Dia dos Mortos”.
De acordo com o município sadino, o festival, com sessões distribuídas pelo Fórum Municipal Luísa Todi, Auditório Charlot, Atelier: 2 pontos, Casa da Cultura e Casa das Imagens Lauro António, conta também com a participação da The Ludwik Sarski Orchestra, que apresentará a banda sonora de três dos primeiros filmes de Roman Polanski, enquanto Phillipe Lenzini interpreta ao vivo o clássico de animação “Barão Aventureiro”, de Karel Zeman.
“A Vingança de um Operador de Câmara” e “Fetiche 33-12”, de Ladislav Starewicz, com o acompanhamento musical da compositora, violoncelista e cantora Joana Guerra é outro dos momentos do festival.
O encerramento ficará a cargo da dupla Greta Eacott & AKELA, que apresenta uma nova banda sonora para o filme “Feitiçaria através dos tempos”.
Para a Câmara de Setúbal, o Film Fest Setúbal 2024 é também um festival que “desenvolve cine-concertos para escolas e promove ‘workshops’ para famílias, oferecendo-lhes diferentes formas de experimentar e interagir com o cinema e a música […], criando oportunidades para o público mais jovem e familiar de se envolver com o universo do cinema musicado ao vivo”.
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