O festival de cinema de Busan, na Coreia do Sul, vai exibir em outubro todas as longas-metragens do realizador português Miguel Gomes, entre as quais a mais recente, “Grand Tour”.
O festival descreve Miguel Gomes como “o realizador de uma alegre melancolia”, dedicando-lhe um destaque especial na 29ª edição, entre 02 e 11 de outubro. De acordo com o programa, o cineasta fará uma 'masterclasse' em Busan a 5 de outubro.
Além de “Grand Tour”, que se estreia hoje nos cinemas portugueses, o festival sul-coreano irá exibir os filmes “A cara que mereces” (2004), “Aquele querido mês de agosto” (2008), “Tabu” (2012), o tríptico “As mil e uma noites” (2014) e “Diários de Otsoga (2021), correalizado com Maureen Fazendeiro.
“Grand Tour” teve estreia mundial em maio passado no Festival de Cinema de Cannes, em França, onde Miguel Gomes recebeu o prémio de Melhor Realização.
Protagonizado por Gonçalo Waddington e Crista Alfaiate, o filme é o candidato de Portugal a uma nomeação para os Óscares de 2025.
Na génese de “Grand Tour” está a ideia de uma grande viagem pela Ásia, e duas personagens inspiradas num livro de viagens do escritor Somerset Maugham.
“O que nós tínhamos era um percurso e tínhamos aquelas duas personagens: um homem que fugia da sua futura mulher; e uma mulher que se recusava a acreditar que o noivo estivesse a fugir dela e que o perseguia estoicamente”, lembrou Miguel Gomes em entrevista à agência Lusa.
A viagem a Oriente foi encetada por Miguel Gomes e por uma pequena equipa de argumentistas e técnicos, nos meses antes da pandemia da COVID-19, recolhendo imagens em vários países, que serviriam, depois, para escrever o argumento.
No périplo por Myanmar, Vietname, Filipinas, Tailândia ou Japão, Miguel Gomes filmou a contemporaneidade, noites de karaoke, teatro de sombras e de marionetas, anónimos a jogarem ‘mahjong’, florestas de bambus, cidades com intenso tráfego.
“Nós queríamos era caçar borboletas, capturar coisas que nos tocassem, que possam ser graciosas, divertidas, que nos dissessem alguma coisa. Isso de tentar capturar a graça do mundo é uma coisa bastante central na história do cinema e hoje em dia um pouco caído em desuso”, constatou.
Mais tarde, a produção construiu cenários em estúdio, em Roma e em Lisboa, e rodou uma história a preto e branco, passada em 1918, com Edward (o ator Gonçalo Waddington), um funcionário público do império britânico que embarca numa viagem solitária pela Ásia, depois de ter fugido da noiva Molly (a atriz Crista Alfaiate) no dia em que ela chega para o casamento.
Molly, persistente, segue o rasto do noivo em fuga através de périplo asiático.
Na programação do festival de Busan estão ainda presentes três obras com coprodução portuguesa: “Cidade do vento”, de Lkhagvadulam Purev-Ochir, coproduzido por Uma Pedra no Sapato, e “Misericórdia”, de Alain Guiraudie, e “L’Impire”, de Bruno Dumont, ambos com a participação da Rosa Filmes.
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