O festival de cinema DocLisboa começa hoje com o filme “Sempre”, da realizadora Luciana Fina, que é uma revisitação das imagens que registaram o processo revolucionário do 25 de Abril de 1974.
“Sempre” é um filme de montagem da realizadora italiana, a partir de mais de 40 filmes dos arquivos da Cinemateca Portuguesa, de imagens que acompanharam a preparação e o processo da Revolução dos Cravos.
O filme conduz o espectador através da asfixia do salazarismo e da polícia política PIDE, das ocupações estudantis de 1969, do Movimento das Forças Armadas, dos sonhos, dos programas e das perspetivas do PREC, do Verão Quente, da descolonização, e repropõe os gestos de grandes cineastas que entraram em ação juntamente com artistas, compositores e diretores de rádio.
Simultaneamente percebe-se, por entre imagens do passado, sons inerentes ao momento histórico atual, manifestações pelo direito à habitação, ao trabalho digno e à cultura, a questão da mulher e a questão colonial.
“É um tributo ao cinema que interferiu na história e que restitui, hoje, a hipótese de um momento extraordinário”, descreve o DocLisboa a propósito deste filme, que abre oficialmente o festival no Cinema São Jorge.
Esta é a 22.ª edição do DocLisboa, com mais de 180 filmes a exibir até ao dia 27 e com uma homenagem ao crítico Augusto M. Seabra, antigo programador do festival e que morreu no início de setembro.
A competição portuguesa apresenta dez filmes, entre os quais “Fogo do vento”, de Marta Mateus, “Espiral em Ressonância”, de Filipa César e Marinho de Pina, “Sob a chama da candeia”, de André Gil Mata, “As noites ainda cheiram a pólvora”, do realizador moçambicano Inadelso Cossa, e “O palácio dos cidadãos”, de Rui Pires sobre a democracia, vendo por dentro a atividade da Assembleia da República.
O DocLisboa acolherá ainda a estreia mundial do documentário “Por ti, Portugal, eu juro”, de Sofia da Palma Rodrigues e Diogo Cardoso, que resultou de uma investigação jornalística da publicação digital Divergente sobre os militares africanos que combateram na Guerra Colonial do lado das Forças Armadas Portuguesas.
No festival estão previstas ainda várias estreias portuguesas de filmes como “TWST - Things We Said Today”, de Andrei Ujica, a partir da passagem dos Beatles em 1965 pelos Estados Unidos, de um retrato do atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo realizador Oliver Stone em “Lula”, “The Invasion”, de Sergei Loznitsa, e “Dahomey”, de Mati Diop.
A programação “Heart Beat”, dedicada às artes, conta com “O voo do crocodilo – O Timor de Ruy Cinatti”, de Fernando Vendrell, “Spirit of Nature”, do realizador francês Léo Favier, sobre Hayao Miyazaki, e “Turn in the Wound”, de Abel Ferrara, com Patti Smith, além de filmes sobre os Pavement, sobre a cantora Peaches ou sobre o entrudo de Lazarim (Lamego).
O festival vai também dedicar, em conjunto com a Cinemateca Portuguesa, uma retrospetiva ao realizador mexicano Paul Leduc (1943-2020), que será a maior fora do seu país e a primeira no continente europeu.
O DocLisboa, atualmente sob a direção da produtora e programadora Paula Astorga, vai decorrer na Culturgest, no Cinema São Jorge, na Cinemateca, no Cinema Ideal e na Casa do Comum do Bairro Alto.
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