A Festa do Cinema Italiano avança para a sua 10ª edição e, para além de Lisboa, o festival passa por Porto (5 e 12), Coimbra (5 a 7) e Setúbal (6 a 8).
Já em Almada serão sessões intercaladas nos dias 5, 9 e 12.
Em termos cinematográficos a programação começa com o drama “Fai Bei Sogni” (foto), que estreia comercialmente com o nome de “Sonhos Cor-de-Rosa” também esta semana.
Obra do veterano Marco Bellochio que abriu a Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes do ano passado, o filme narra a história de um adulto solitário cuja vida é marcada pela morte da mãe quando tinha nove anos [ver artigo].
“É um autor que nós gostamos muito”, diz ao SAPO Mag Stefano Savio, diretor do festival.
“Nós já lhe dedicámos uma retrospetiva e também já abrimos outra edição da Festa com um trabalho dele. “Fai Bei Sogni” tem um impacto muito forte na maneira como a história é contada, há uma grande humanidade. Achamos que seria um bom filme de abertura”, acrescentou.
A máfia volta a matar no verão…?
Pif, é como assina os seus filmes Pierfrancesco Diliberto e “In Guerra per Amore” é o filme de encerramento do certame.
Com os direitos de distribuição já adquiridos para Portugal pela associação que organiza a Festa, a Il Sorpasso, a obra é uma espécie de sequela do seu trabalho anterior, o brilhante “A Máfia só Mata no Verão” – vencedor do prémio do júri da sétima edição.
Muito conhecido como cómico da televisão no seu país, Pif aproveita a sua notoriedade para tratar de uma forma muito singular um dos problemas crónicos da Itália – a máfia. Em “Guerra per Amore”, volta a entrelaçar um romance aparentemente juvenil para fazer, na realidade, um exploração do problema histórico que é a presença da máfia na Sicília.
“É muito inteligente a forma dele abordar o assunto, criando um contraste com tons mais sérios de Roberto Saviano, por exemplo”, observa Savio.
Outras antestreias nacionais serão “Se Dio Vuole” ("Se Deus Quiser"), comédia de Edoardo Falcone (foto pri, e “Le Confessioni” (foto principal), novo trabalho de Roberto Andó, cineasta que abriu a oitava edição com “Viva a Liberdade” e estará em Lisboa para apresentar um filme novamente marcado por tonalidades políticas e a presença de Toni Servillo como protagonista.
Na mostra de cinema italiano contemporâneo, que compreende 14 filmes, destaque ainda para “Perfetti Sconosciuti”, trabalho de Paolo Genovese, um dos mais bem-sucedidos cineastas da Itália, que consegue unir qualidade com sucesso.
“É um filme muito bem realizado, toca os nervos da atualidade de uma maneira muito precisa. Está a ser vendido como uma comédia mas, no final, é um terrível drama”, sintetiza o diretor do festival.
Glórias do passado
Um festival de cinema italiano não seria completo sem oferecer a oportunidade para rever no grande ecrã alguns exemplares do seu glorioso passado com a secção Amarcord.
O grande evento deste ano é uma retrospetiva com dez filmes dedicadas a Dino Risi, um dos mestres da Commedia all'italiana, género dedicado à sátira social e à crítica de costumes que floresceu no país especialmente entre a segunda metade dos anos 50 e o início dos 70. Neste período, Risi foi um dos reis do 'box office' local num estilo que revelou, entre outros, mestres como Ettore Scola e Mario Monicelli.
"Na altura, Dino Risi era muito atacado pelos críticos pois preferiam nomes mais sérios e politizados, como Rosselini”, diz Savio.
“Mas a história vingou-os pois os filmes sobreviveram muito ao tempo, ainda conseguem manter-se”, observa.
Entre os destaques está “Il Sorpasso” ("A Ultrapassagem"), de 1962 (foto), obra que dá precisamente nome à associação que organiza a Festa do Cinema Italiano.
Numa vertente ainda mais acessível encontra-se “Trinitá, Cowboy Insolente” (“Lo Chiamavamo Trinitá”), com Bud Spencer e Terence Hill, filme que ultrapassou as fronteiras e projetou a comédia italiana a nível mundial.
Completam a secção dois outros clássicos absolutos – mostrando a extrema versatilidade do cinema de género em Itália.
Em “Suspiria” (1977) Dario Argento foi procurar o tema da bruxaria para justificar uma série de assassinatos plásticos e finamente construídos – reunindo música, direção de arte, fotografia e, certamente, realização, num trabalho para ser especialmente apreciado num grande ecrã.
Igualmente grandioso é “Allegro non Troppo” (1973), obra essencial da animação italiana e que estabeleceu uma série de cânones do estilo para os artistas que vieram depois. Novamente a música é fundamental – com o enredo estando entrelaçado com o “Bolero” de Ravel.
Música vital
A importância vital da música surge em duas proposta distintas – uma atuação do grupo Spaghetti Fusion e outra da cantora Mísia, ambas no São Jorge.
No primeiro caso, o grupo, formado por membros da Orquestra Metropolitana de Lisboa, executa grandes temas de Ennio Morricone e Nino Rota, entre outros, enquanto as respetivas cenas são projetadas no ecrã.
A cantora portuguesa, por seu lado, faz parte do evento Napolitana e reinveste nas suas pesquisas da música da cidade italiana para uma criação especialmente elaborada para o evento. O espetáculo tem como fio condutor a leitura de trechos de outra célebre natural de Nápoles. Elena Ferrante.
“A Napolitana é uma moldura bastante ampla para incluir uma série de homenagens à cidade de Nápoles, um lugar cheio de inovações e com uma cultura muito própria, que já revelou grandes nomes da literatura, do cinema (Paolo Sorrentino e Toni Servillo, por exemplo) e da música”, observa o diretor da Festa.
Fora do cinema destaque também para a sessão “Firenze e Gli Uffizi”, onde os espetadores têm acesso à uma visita guiada pelo famoso museu de Florença e às suas milhares de peças.
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