Durante a rodagem na antiga Jugoslávia em 1970 de "Um Violino no Telhado", o protagonista do filme ficou em pânico por causa do desaparecimento de uma máquina fotográfica. Veio a descobrir-se que tinha sido roubada pelo filho dos donos de uma quinta.
Mais de cinquenta anos depois, veio a descobrir-se outra coisa: era uma máquina fotográfica de espionagem.
Um mês após a morte aos 87 anos do ator israelita Chaim Topol, conhecido simplesmente como Topol, a sua família revelou o seu envolvimento em missões internacionais para benefício dos serviços secretos Mossad.
"Não sei exatamente qual é a definição mais adequada para os recados e trabalhos que fazia. Mas é evidente que o pai esteve envolvido em missões secretas em nome da Mossad, disse o seu filho Omer ao 'site' de notícias Haaretz [acesso pago], via Daily Mail.
A esposa do ator e dois filhos dizem que o ator partia sem explicação em viagens ao estrangeiro com uma moderna máquina fotográfica e um gravador.
"O seu estatuto na altura era o de uma estrela internacional e podia ir a qualquer lugar que quisesse. Tinha a capacidade de entregar documentos e tirar fotografias sem ninguém questionar nada. Mas ele não era James Bond ou algo do género", explicou o filho.
Esta foi a altura em que que desempenhava o papel o papel de Tevve que o imortalizou nos palcos e no cinema, e fez outros trabalhos pelos quais é recordado fora do seu país: foi Hans Zarkov em “Flash Gordon” (1980) e um contrabandista que se tornava aliado de James Bond em "007 - Missão Ultra Secreta" (1981). Também entrou na prestigiada e icónica minissérie "Ventos de Guerra" (1983) e na sua sequela "Para Além da Guerra" (1988–1989).
As missões incluíam embaixadas, aeroportos e companhias aéreas dos países árabes inimigos de Israel durante o auge da carreira nas décadas de 1960 e 1970, depois de se tornar uma estrela internacional na produção teatral de "Um Violino no Telhado", que representou pela primeira vez fora de Israel no West End de Londres, onde atuou mais de 400 vezes.
Segundo a família, a casa na capital inglesa recebia a visita de espiões da Mossad, com os quais o ator conspirava para aproveitar o seu estatuto para ter acesso a locais de difícil acesso.
Neste período estava em contacto regular com Peter Zvi Malkin, um agente que chegava a casa entrando pelas traseiras e sob disfarce.
"Topol 'era uma espécie de cobertura para as operações [de Malkin]'. Ele vinha a Londres e morava connosco quando precisava", contou a sua viúva, Galia.
Uma das missões foi a de colocar escutas numa embaixada árabe numa capital europeia não identificada: Topol e Malkin alugaram um apartamento ao lado para perfurar as paredes para instalar os dispositivos.
A fachada era a de uma clínica dentária e Topol teve de assumir o papel de paciente e Zvi Zamir, o cúmplice que mais tarde se tornaria chefe da Mossad, o de de dentista, quando a equipa de segurança da embaixada decidiu investigar o barulho e rapidamente foi convencida pela atuação da dupla.
Aquando da Guerra do Yom Kippur em 1973, a família revela que foi visitada por Zamir na véspera para avisar. E após a guerra, Topol ajudou a fazer pontes com jornalistas estrangeiros para reunir informações sobre as negociações de paz entre Israel e o Egito.
Foi uma fase em que conheceu generais egípcios e outras figuras importantes da segurança e quando começou a Guerra do Líbano de 1982, foi enviado a Beirute para se encontrar com agentes estrangeiros e jornalistas para juntar informações sobre soldados israelitas desaparecidos.
“O que sempre motivou Chaim foi o sentido de aventura e coragem, por isso não há ninguém mais apropriado do que ele para se envolver em assuntos que não são falados”, explicou a sua viúva.
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