As exibidoras Cinebox e Cinetoscópio ponderam apresentar novamente uma proposta para explorar o cinema Monumental, em Lisboa, caso os proprietários mantenham as salas, disseram os responsáveis à agência Lusa.
“Estamos no ponto de partida. Depende de como a Merlin [Properties, a proprietária] quer encarar aquilo. Se eles tiverem vontade mesmo que aquilo seja cinema, então nós poderemos estar outra vez interessados”, afirmou à agência Lusa o produtor e exibidor Luís Urbano.
Também João Caldeira, responsável pela Cinebox, manifestou à agência Lusa vontade de avançar com a proposta: “Diria que é preciso ter muita imaginação para que o espaço do Monumental seja algo que não cinema”.
Na semana passada, o ministro da Cultura ainda em funções, Pedro Adão e Silva, assinou um despacho em que não autoriza a desafetação do cinema Monumental para outras atividades sem ser a exibição cinematográfica.
Recomendando que “a decisão de desafetação seja objeto de ponderação especialmente cuidada”, o ministro considera que “as salas de cinema são um bem escasso, que elas cumprem uma importante função cultural na vida pública e que não foram esgotadas as possibilidades de reativação do Cinema Monumental”.
O pedido de desafetação foi feito em 2023 pela imobiliária Merlin Properties, proprietária do edifício onde funcionaram, até 2019, as quatro salas do cinema Monumental. O edifício, maioritariamente de escritórios, foi alvo de reformulação e acolhe atualmente o banco BPI.
No despacho do Ministério da Cultura lê-se que a imobiliária queria acolher o projeto educativo TUMO, um centro de tecnologias criativas lançado em Portugal pelo professor catedrático Pedro Santa-Clara, em regime de comodato até junho de 2031, com a “cedência gratuita dos cinemas”.
O primeiro centro deste projeto educativo internacional foi lançado em Coimbra, mas a intenção é estendê-lo a outras cidades, nomeadamente Lisboa, com o apoio da câmara municipal e de várias instituições públicas e privadas.
Contactado pela agência Lusa, Pedro Santa-Clara disse hoje que não comenta a decisão do Ministério da Cultura e que espera ter “notícias em breve” quanto a uma “alternativa de espaço” para o projeto TUMO.
Os responsáveis da Cinebox e da Cinetoscópio, que apresentaram propostas para exploração das salas, congratulam-se com a decisão do Ministério da Cultura, mas Luís Urbano lembra que havendo uma mudança de Governo, a imobiliária possivelmente pode apresentar novo pedido.
Contactada pela agência Lusa, a assessoria da Merlin Properties afirmou que “não tem nenhuma informação ou desenvolvimento a acrescentar sobre este tema”.
“A bola não está do nosso lado. Tudo o que fizemos do ponto de vista de proposta pressupunha uma boa relação com o proprietário para entender ao detalhe o montante de investimento a ser feito”, disse Luís Urbano.
No caso da Cinebox, que explora a exibição comercial em Castelo Branco e está interessada em “recuperar salas de cinema em todo o país”, a proposta era ter “um conceito de salas ‘boutique’”, com salas de cinema e restauração.
Em 2023, a pedido do Ministério da Cultura, a Inspeção-Geral das Atividades Culturais fez uma vistoria às salas e concluiu que “se encontram muito danificadas, não estando aptas a desenvolver atividade cinematográfica sem que se realizem obras de muito considerável dimensão”.
Luís Urbano disse que “o investimento ainda é considerável e tem a ver com questões do ar condicionado e cumprimento de regras” de funcionamento, enquanto João Caldeira admitiu que “as salas estão em mau estado e completamente desatualizadas tecnologicamente”.
A Cinebox especificou que para ter no cinema Monumental o conceito ‘boutique’ são precisos cerca de três milhões de euros de investimento.
“A Cinebox não recebe nem espera ser subsidiada para esse projeto que poderia ser importante para a divulgação e crescimento do cinema português ao lado de filmes de ‘majors’ e distribuidores independentes”, disse João Caldeira.
As quatro salas do cinema Monumental tiveram atividade até 2019 num edifício de comércio e escritórios inaugurado em 1993, no mesmo espaço onde antes tinha funcionado o antigo, e icónico na cidade, Cine-Teatro Monumental.
Atualmente, em Lisboa só existem três salas de exibição regular fora dos centros comerciais: o Cinema Ideal, no Chiado, reaberto pela Midas Filmes em 2014, o Cinema Nimas, explorado por Paulo Branco, e o City Alvalade, explorado pela exibidora Cinema City.
A demolição de recintos de cinema ou a sua afetação para outras atividades, que não a exibição cinematográfica, depende sempre de uma autorização do membro do Governo responsável pela área da Cultura.
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