O realizador espanhol Pedro Almodóvar apresenta esta quarta-feira a sua curta-metragem de temática western e gay no Festival de Cinema de Cannes, que começa a exibir os filmes candidatos à Palma de Ouro.

Almodóvar tem uma relação especial com a prestigiada competição, em que já concorreu seis vezes ao prémio máximo, a última em 2019 com o seu filme mais autobiográfico, “Dor e Glória”. Mas, apesar de ter conquistado vários prémios importantes, nunca conseguiu ser coroado.

Este ano, Almodóvar exibe, fora de competição, "Estranha Forma de Vida", protagonizado pelo norte-americano Ethan Hawke e pelo chileno Pedro Pascal, além do português José Condessa num papel secundário ao lado de Pedro Casablanc, Sara Sálamo, Jason Fernández, George Steane e Manu Ríos.

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A curta, com cerca de 25 minutos de duração e filmada em inglês, conta o reencontro de dois homens, um “emotivo e caloroso”, outro “frio e hermético”, nas palavras do realizador, numa cidade do Velho Oeste, no início do século XX.

"A minha primeira intenção era dar voz a estes dois homens maduros e 'queer' que tradicionalmente permaneceram calados num género como o western", disse Almodóvar em comunicado sobre o filme.

"Fui atraído pela ideia de quebrar esse silêncio", salientou.

"Grande admirador" do western, Almodóvar confessa que jamais imaginaria que acabaria a filmar um dentro do género.

Rodado no verão passado em Espanha, o título remete para um fado de Amália Rodrigues, cuja letra se encaixa na narrativa, "porque não há vida mais estranha do que aquela que se vive de costas para os próprios desejos", referiu Almodóvar no comunicado.

O realizador de 73 anos planeia um encontro com o público nesta quarta-feira após a exibição da curta.

Outro momento importante do dia será uma palestra com o lendário ator norte-americano Michael Douglas, que recebeu na véspera a Palma de Ouro honorária pela sua carreira. A estrela de Hollywood de 78 anos protagonizou filmes conhecidos como "Instinto Fatal" ou "Um Dia de Fúria", exibidos em Cannes.

Arranca a competição

Catherine Corsini

Após a gala de abertura da véspera, rodeada de polémicas pela presença do ator norte-americano Johnny Depp, que interpreta Luís XV no filme francês "Jeanne du Barry", começam esta quarta-feira a ser projetados os títulos que concorrem à Palma de Ouro.

O japonês Hirokazu Kore-eda, que apresenta “Monster”, concorre a uma segunda Palma com a história sobre um incidente ocorrido numa escola, depois de ter ganho o prémio máximo com "Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões" (2018).

O cineasta também concorreu no ano passado com "Broker", rodado na Coreia do Sul, com o qual o famoso ator Song Kang-ho ganhou o prémio de Melhor Ator.

O outro filme exibido na quarta-feira vem da mão da realizadora francesa Catherine Corsini que, com "Le Retour", concorre pela terceira vez à Palma de Ouro.

História de uma mãe e das suas duas filhas pequenas que regressam à ilha da Córsega, de onde tiveram de partir em trágicas circunstâncias, a produção está rodeada de alguma polémica.

O filme ficou sem financiamento público após a divulgação de que uma cena de sexo envolvendo uma atriz de menos de 16 anos não foi comunicada, como é exigido, às autoridades.

Além disso, alguns colaboradores censuram Corsini pela sua forma excessivamente dura de dirigir as filmagens, segundo fontes citadas pela imprensa.

Corsini, de 66 anos, conhecida pelo seu ativismo feminista, denunciou em entrevista ao jornal Le Monde "um fundo de misoginia" por trás dessas acusações, que surgiram de uma carta anónima.

A cineasta francesa é uma das sete na corrida à Palma de Ouro, um recorde para o concurso.

Se o júri, presidido pelo sueco Ruben Östlund, conceder o prémio máximo a um filme dirigido por uma mulher a 27 de maio, seria a terceira vez na história do certame, depois da neozelandesa Jane Campion em 1993 com "O Piano" (prémio dividido com o filme "Adeus, Minha Concubina"), e a francesa Julia Ducournau, em 2021, com "Titane".