Guillaume Canet sob chuva ácida apocalíptica, Romain Duris a enfrentar mutantes: com o lançamento de filmes ambiciosos, o outono promete ser um ano de fantasia para o cinema francês.
Há muito relutante em produzir filmes de género, a Sétima Arte francesa já não hesita, com as estrelas apreciadas pelo público.
Na quarta-feira, 20 de setembro, a Pathé lança “Acide”, de Just Philippot, um projeto espetacular que pretende seguir os passos de produções americanas, como “A Estrada” com Viggo Mortensen.
Este filme de sobrevivência que teve já antestreia em Portugal como a sessão de encerramento no dia 17 do MOTELX - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, leva ao limite as populares estrelas Guillaume Canet e Laetitia Dosch, um casal acompanhado pela filha, interpretada pela estreante Patience Munchenbach.
Depois de uma introdução bastante inesperada, onde Canet interpreta um “colete amarelo”, o filme encontra os trilhos mais traçados de um filme pós-apocalíptico, onde a família só pode contar consigo mesma para sobreviver perante uma chuva ácida mortal e incontrolável que consome edifícios e corpos.
Para o realizador Just Philippot, que se destacou com "La Nuée" (2020), um drama rural misturado com fantasia sobre uma criação de gafanhotos carnívoros, "dar vida a um clima de terror, de emoções fortes, é maravilhoso" porque permite transmitir melhor as mensagens, ambientalistas por exemplo, explicou à France-Presse (AFP) durante o Festival de Cinema de Cannes, onde o filme foi apresentado fora de competição.
“É um cinema que não estamos habituados a ver em França”, confirma Guillaume Canet.
“Ele transmite mensagens importantes sobre as nuvens que surgem no horizonte, sem dar lições” com a história desta família posta à prova.
Mistura de géneros
Laços familiares também são o tema de "Le règne animal" ["O reino Animal", em tradução livre], com Romain Duris e o jovem Paul Kircher (revelado em “Le Lycéen”, de Christophe Honoré), que será lançado nas salas francesas a 4 de outubro e também foi visto pelo público do MOTELX no dia 12.
Tal como "Acide”, o filme foi apresentado em Cannes, abrindo a secção "Un certain regard".
Provavelmente um dos filmes franceses mais ambiciosos e inclassificáveis do outono, "Le règne animal" imagina que um vírus implacável transforma uma parte dos humanos em animais, do polvo ao lobo.
Perante a possibilidade da transferência da esposa para um centro de acolhimento fechado, François (Romain Duris) terá que se reinventar e também repensar a relação com o filho Emile (Paul Kircher). Longe do apocalipse, o filme imagina a coabitação entre espécies.
“Gosto da mistura de géneros”, disse à AFP o realizador Thomas Cailley, que já havia assinado o aclamado “Os Combatentes”, com Adèle Haenel e Kévin Azaïs em 2014.
"Le règne animal" mistura filme de iniciação, comédia dramática e fantasia, “como bonecas aninhadas”, acrescenta. A chegada dos animais mutantes é uma forma de estudar “como as pessoas se posicionam moralmente” em relação à alteridade, observa.
Para evitar o efeito caricatural, o realizador utilizou toda uma série de técnicas, desde desenhos de mutantes imaginados em colaboração com o autor da banda desenhada Frederik Peeters, até efeitos de maquilhagem, cenário ou digitais.
Além de um longo trabalho coreográfico com os atores, que se apropriaram dos gritos e movimentos dos pássaros.
Esses filmes esgotarão as salas de cinema?
As últimas tentativas no campo dos filmes de fantasia artística não encontraram realmente o seu público: “Teddy”, um filme sobre o lobisomem com Anthone Bajon, e “La nuée”, lançado durante a crise da COVID-19, atraíram apenas 35 e 50 mil espectadores respetivamente. "Já "La Tour", filme de terror ambientado num prédio da cidade, ficou pelos 31 mil bilhetes no início do ano.
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