Numa conversa com o público, após a exibição do seu filme "Underground - Era uma vez um país" (1995), hoje, no cinema Nimas, em Lisboa, Kusturica reconheceu que "há períodos na vida de um realizador que são determinados pelo tempo".
"Não há filme ou romance que não seja dado absolutamente pelo tempo que se vive. Este filme foi criado debaixo de condições incríveis. Vivia nos Estados Unidos e, na altura, vieram dizer-me que havia um homem em França que me daria o dinheiro que eu quisesse para produzir um filme. É um filme que faz parte do século passado em que isto acontecia", contou.
No entanto, o cineasta acredita que o valor do cinema é definido por "aqueles que realmente querem fazer filmes e não enriquecer, ou aparecer na passadeira vermelha, ou serem famosos".
Kusturica alertou ainda para o tempo que as pessoas dedicam ao mundo virtual.
"A vida das pessoas hoje em dia é tão afetada pelo mundo virtual que as pessoas passam mais tempo fora da vida do que a vivê-la. Estou só a alertar. Não posso provar, porque não sou filósofo, mas é o que eu sinto, que a maior parte da nossa vida é transferida para uma vida virtual", sustentou.
O Lisbon & Estoril Film Festival dedicou este ano uma retrospetiva a Kusturica, com a exibição de vários dos seus filmes, entre os quais o mais recente, ainda por estrear, "On the Milky Road", com Mónica Bellucci.
"Um crítico disse, a propósito deste último filme, que era típico meu: barulhento e que gosto de me filmar a mim próprio (porque também represento no filme). Creio que é o tipo de abordagem que fazem hoje em dia. Mas, para mim, um filme é algo que tem de ser feito com o fundamento da Humanidade", sublihnou.
Vencedor de vários prémios, "Underground" (1995) conta a história de dois amigos que fazem fortuna à conta de um grupo de pessoas escondidas numa cave, durante a Segunda Guerra Mundial, que produzem armas para serem vendidas.
A décima edição do Lisbon & Estoril Film Festival termina no domingo, com a cerimónia de entrega de prémios e a exibição do filme "Animais Noturnos", de Tom Ford, no Centro Cultural de Belém.
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