O novo filme da Pixar “Elemental”, que estreia hoje nos EUA, “vai surpreender muita gente” com temas que não costuma explorar, disse à Lusa a animadora brasileira Priscila Vertamatti, que trabalhou na longa-metragem.

“Esse filme vai ser muito especial para muitas pessoas, vai surpreender muita gente”, afirmou a animadora em entrevista à agência Lusa, sobre a longa-metragem que tem data prevista de estreia nos cinemas portugueses a 13 de julho.

“Elemental” – cujos personagens são feitos de fogo, água, terra e ar – conta uma história de amor, algo tem sido raro nos quase trinta anos da Pixar, enquadrada numa história de emigração, em que as expectativas dos pais nem sempre vão ao encontro da realidade.

“A Pixar tenta sempre pegar em temas que as pessoas ainda não viram”, disse Vertamatti. “Existe a parte da história de amor, que até para a Pixar foi um pouco original, porque as únicas que fizemos foram ‘Up - Altamente’ e ‘Wall-E’”, indicou.

“Essa parte da emigração e do sacrifício dos pais vai surpreender muita gente”, considerou. “Os pais sacrificaram-se, foram para outro país”, continuou a animadora, ela também emigrante que trocou o Brasil pelos Estados Unidos. “Uma pessoa perde muita coisa, tem de recomeçar a vida, praticamente”.

A ação de “Elemental” passa-se na Cidade dos Elementos, uma metrópole inspirada em grandes cidades portuárias, como Amesterdão, Nova Iorque e Veneza, e ‘hubs’ internacionais de emigração.

A protagonista é Ember, uma jovem feita de fogo e filha de emigrantes que deixaram a sua terra e embarcaram rumo a uma cidade construída inicialmente para os elementos de água.

O criador Pete Sohn disse, em conferência de imprensa de lançamento do filme, que esta foi uma exploração de temas pessoais, ligados à sua experiência de crescer em Nova Iorque como filho de emigrantes coreanos e a xenofobia que ele e os seus pais sofreram.

“Enquanto crescia não apreciei tudo aquilo por que os meus pais passaram”, afirmou. “Quanto mais velho sou, mais espantado fico que eles tenham conseguido fazer tanto com tão pouco”.

Há também um elemento de choque de culturas no filme quando Ember (fogo) e Wade (água) se apaixonam, similar ao que Sohn experimentou ao casar-se com uma mulher que não é coreana, uma ligação que escondeu dos pais inicialmente.

Ainda assim, a animação tem um tom positivo e cheio de esperança. “É um filme muito colorido com comunidades desiguais. Mas essa foi a parte divertida, que visualmente podíamos ver logo como estas comunidades conseguem ter tanta esperança e ser algo pelo qual lutar”, afirmou. “Foi pôr a esperança na frente mais que qualquer outra coisa”.

O projeto, que demorou sete anos a ser concluído, obrigou a Pixar a usar ferramentas novas para desenhar personagens tão inusitados como pessoas feitas de água e de fogo. Priscila Vertamatti disse que o processo de animação “foi muito diferente” de tudo o que fez em quase onze anos na Pixar.

“Tivemos muito mais controlos para mexer no personagem”, contou, falando de um processo de renderização bastante demorado, de cerca de dois dias.

“Como animadores, só vemos o resultado final quando está 'renderizado'”, explicou. “Neste filme particularmente, o resultado final é muito diferente do que vemos no 'software' quando estamos a animar. Temos de usar a imaginação”.

Vertamatti animou cenas com Ember, a protagonista, Brook, a mãe de Wade, que é uma personagem de água, Claude, um menino feito de terra, e ainda um personagem de ar. “Achei muito divertido, foi um desafio mas muito bom”, salientou.

Além dos temas diferentes, “Elemental” também apresenta uma certa reversão de características: o personagem masculino Wade é muito sentimental e chora com facilidade, enquanto a personagem feminina Ember tem sobretudo problemas em controlar o seu temperamento intempestivo.

Isso espelha, de alguma forma, a relação entre Pete Sohn e a sua mulher, que é meio italiana, disse o criador. “Não quer dizer que os italianos são fogo, mas a minha mulher é muito apaixonada pelas coisas e eu sou mais pateta”.

Esta é a 26.ª longa-metragem de animação da Pixar e chega aos cinemas portugueses a 13 de julho, pouco mais de um ano depois da última, “Lightyear”.

Pete Sohn sublinhou que é visível o esforço da Pixar em trazer vozes mais diversas ao estúdio e este filme é uma boa metáfora disso. Priscila Vertamatti tem uma visão similar.

“Nós como artistas temos um certo poder de trazer uma mensagem e uma conversa para as pessoas”, afirmou. “É importante falar desses temas diferentes”.

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