«A vida não é como os filmes» serve de base para esta belíssima fábula com nostalgia distorcida sobre uma empregada (
Mia Farrow) que escapa da Grande Depressão e de uma existência infeliz dominada por um marido alcoólico, violento e desempregado, refugiando-se numa sala de cinema, assistindo a sessões contínuas dos seus filmes preferidos, até ao momento em que, ao quinto visionamento de
«A Rosa Púrpura do Cairo», um dos seus atores (
Jeff Daniels) salta do grande ecrã a preto e branco para a realidade a cores, lançando-se os dois à aventura pelas ruas de Nova Jérsia, onde nasce um amor e a oportunidade de uma nova vida.
«As pessoas reais querem as suas vidas ficção e as fictícias querem as suas vidas reais», ouve-se a certa altura neste filme mágico e único, uma inventiva reflexão sobre a ilusão do cinema e o cruel choque com o mundo real, e sobre as divergentes imagens de quem somos e quem gostaríamos de ser, por mais do que uma vez considerado pelo próprio
Woody Allen]Woody Allen[/a] como o seu melhor trabalho. E se o ponto de vista, mesmo sendo o dele, pode ser discutido, pois quando se pensa num TOP do realizador, invariavelmente acabam por surgir mais depressa
«Annie Hall»,
«Manhattan» ou
«Crimes e Escapadelas», concorde-se que talvez seja o melhor dos seus filmes que nunca é citado. E o mais comovente. Uma pérola a descobrir, portanto.
Nuno Antunes
Revista Metropolis
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