O estado de saúde de Bruce Willis era conhecido e preocupava muitos dos que trabalharam com ele nos últimos filmes, à frente e atrás das câmaras.
Esta quarta-feira, a família do ator anunciou o fim da sua carreira após ter sido diagnosticado com afasia, um distúrbio da comunicação adquirido que interfere na capacidade de processamento da linguagem, sem afetar a inteligência. Prejudica a fala e a compreensão de outras pessoas e, em muitos casos, também compromete a leitura e a escrita. A causa mais comum é um acidente vascular cerebral.
Quase duas dúzias de pessoas que trabalharam com Bruce Willis em vários filmes recentes, destinados principalmente ao mercado de vídeo, disseram ao jornal Los Angeles Times que eram evidentes os sinais de declínio e tinham questionado se estava totalmente lúcido sobre o que se passava à sua volta durante as rodagens.
Vários realizadores dos 22 filmes em que entrou nos últimos quatro anos "descreveram cenas de partir o coração com a adorada estrela de 'Pulp Fiction' a lutar com a perda de capacidades cognitivas e incapacidade de se recordar dos diálogos".
Algumas das soluções encontradas para contornar estas situações foram a utilização de auriculares para lhe transmitir os diálogos, cortes nas páginas dos argumentos para reduzir a sua participação e cortar monólogos, concentrar o trabalho em poucos dias e horas, e rodar perto do local onde vivia.
Segundo o jornal, as rodagens de Bruce Willis nos últimos anos limitavam-se a dois dias, pelos quais muitas vezes recebia dois milhões de dólares. E apesar do contrato estipular oito horas, normalmente trabalhava apenas metade. A maioria das cenas de ação em que era previsto aparecer eram feitas com duplos, o que disfarçava os poucos minutos em que realmente o ator aparecia em cada filme.
Os realizadores também tinham de filmar o mais depressa possível, mesmo quando era evidente o seu estado de confusão.
Duas pessoas da equipa de um dos filmes recordam-se de o ouvir dizer em voz alta: "Sei por que é que tu estás aqui, e sei por que tu estás aqui, mas por que estou eu aqui?”.
"Não era tanto uma contrariedade, mas mais algo do género 'Como é que não fazemos o Bruce parecer mal?'. Alguém dava-lhe um diálogo e ele não percebia o que queria dizer. Estava apenas a ser uma marioneta", acrescentou uma das pessoas.
Apesar do declínio, o envolvimento do ator, mesmo por alguns minutos, ajudava a vender os filmes de baixo orçamento no mercado internacional: o seu rosto no poster era suficiente para chamar a atenções dos espectadores que navegavam pelos menus das plataformas de streaming.
Nos últimos anos, Bruce Willis fazia filmes principalmente para duas produtoras e na rodagem de "Hard Kill" ("Projeto 725" em Portugal), houve um incidente que "deixou a equipa bastante abalada", quando ele disparou uma arma carregada com cartuchos de pólvora seca na altura errada: a atriz Lala Kent estava de costas e nas duas vezes em que a cena foi rodada, nunca recebeu a indicação verbal de Bruce Willis antes de disparar a arma que tinha sido combinada para saber a altura em que se devia baixar.
Um membro da equipa desse filme recorda-se da situação e garantiu ao jornal: "Tomámos sempre precauções para que ninguém estivesse na linha de fogo quando ele manuseava armas".
Desconfortáveis com o agravamento do estado de saúde e as condições de trabalho, alguns realizadores recusaram repetir a experiência.
Um deles foi Jesse V. Johnson, que tinha trabalhado com o ator há muitos anos como duplo: "Era evidente que ele não era o Bruce que eu recordava. Após a nossa experiência em 'White Elephant', foi decidido como equipa que não faríamos outro. Somos todos fãs do Bruce Willis e a combinação parecia errada e, em última análise, um final bastante triste para uma carreira incrível, com o qual nenhum de nós se sentia confortável”.
Um dos últimos filmes de Bruce Willis ainda por lançar é “Paradise City”, filmado no Havai e com John Travolta no elenco: uma mini-reunião "Pulp Fiction".
"Ele estava entusiasmado por trabalhar com John Travolta e podia-se ver que ainda lá estava o velho charme de Bruce Willis. Ele realmente deu o seu melhor e garantimos que ele e John tivessem uma ótima experiência filmando juntos", contou o realizador Chuck Russell.
Mas várias pessoas disseram que estavam alarmadas com o estado de saúde.
"Ele parecia tão perdido e dizia: 'Vou dar o meu melhor'. Ele dava sempre o melhor de si. Ele é um dos maiores de sempre e tenho a maior admiração e respeito pela sua carreira, mas era altura de se reformar", contou um membro da equipa do filme "White Elephant" após ser conhecida a notícia desta quarta-feira.
Comentários