A caminho dos
Óscares 2024
A curta-metragem portuguesa "Um Caroço de Abacate" faz parte dos 15 finalistas a uma nomeação nos Óscares na categoria de Melhor Curta-Metragem em Imagem Real.
A produção, que teve estreia em 2022 no festival IndieLisboa, na qual foi premiada, é a única portuguesa nas listas dos 15 ou 10 finalistas em 10 categorias, anunciadas esta quinta-feira à tarde em Los Angeles (início da noite em Lisboa) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas: curtas (imagem real, documentário, animação), Filme Internacional, Documentário de Longa-Metragem, Canção Original, Banda Sonora, Som, Efeitos Visuais e Caracterização.
"Mal Viver" falhou a lista de finalistas para Melhor Filme Internacional, reforçando Portugal como o país recordista em candidaturas sem nunca ter sido nomeado na categoria.
Também "A Boneca de Kafka" (2022), de Bruno Simões, não chegou aos finalistas nas curtas de animação. "Mataram o Pianista", de Fernando Trueba e Javier Mariscal, com co-produção portuguesa, foi outra exclusão na categoria de Documentário de Longa-Metragem.
Finalista na mesma categoria de "Um Caroço de Abacate" está "Estranha Forma de Vida", de Pedro Almodóvar, no qual entra o ator português José Condessa, que teve estreia comercial em cinema em Portugal.
Outro filme com participação portuguesa que chegou a uma das 10 ‘shortlists' é “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos, que inclui o fado de Carminho “O Quarto”.
O filme tem uma boa porção da ação em Lisboa e foi incluído na ‘shortlist’ de Melhor Banda Sonora, além de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Caracterização.
Entre os finalistas a deixar pistas para presença forte nas nomeações que serão conhecidas a 23 de janeiro já se destacam as cinco presenças de "Barbie" (incluindo três canções finalistas), as quatro de "Assassinos da Lua das Flores" e "A Sociedade da Neve", e as três de "Oppenheimer", "Pobres Criaturas", "A Cor Púrpura" e "Homem-Aranha: Através do Aranhaverso".
A decisão sobre quais serão nomeadas para os Óscares será revelada em janeiro, com a cerimónia marcada para 10 de março de 2024.
A importante presença de filme de Ary Zara numa categoria onde, além de Almodóvar, inclui o realizador Wes Anderson com "A Incrível História de Henry Sugar" (disponível na Netflix), acontece um ano após o feito histórico em que três curtas-metragens estiveram entre os finalistas: a 21 de dezembro de 2022, "Ice Merchants”, de João Gonzalez, e "O Homem do Lixo", de Laura Gonçalves, surgiam entre as 15 finalistas para Melhor Curta-Metragem de Animação, enquanto "O Lobo Solitário", de Filipe Melo, estava na "short-list" para Melhor Curta-Metragem em Imagem Real.
A 24 de janeiro de 2023, a dupla João Gonzalez e Bruno Caetano fez história com a nomeação de “Ice Merchants”: o primeiro filme português na corrida em 95 anos dos Óscares.
"Um Caroço de Abacate" venceu em fevereiro o prémio de melhor filme queer do Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand (França), um dos mais relevantes dedicados à curta-metragem.
Na semana passada, soube-se que o ator trans Elliot Page, em conjunto com Matt Jordan Smith e Tuck Dowrey da sua produtora Pageboy Productions, tornaram-se produtores executivos da curta.
A produção da Take it Easy tem como protagonistas Gaya de Medeiros e Ivo Canelas e a história centra-se no encontro entre "Larissa, uma mulher trans e Cláudio, um homem cis", numa noite em Lisboa.
Num curto vídeo divulgado aquando da vitória em Clermont-Ferrand, Ary Zara explicava que o filme é "uma história muito simples, livre de violência e de morte, e a pensar em novas possibilidades para pessoas trans".
"Escolhi este tema, porque sou uma pessoa trans e estou habituado a ver pessoas como eu no grande ecrã a serem constantemente vítimas de violência, a morrerem e a não poderem expressar felicidade e amor", dizia.
Um recorde cada vez mais negativo na categoria de Melhor Filme Internacional
Já "Mal Viver" falhou a entrada na corrida a uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Internacional na 96.ª edição dos prémios norte-americanos de cinema de Hollywood.
O filme de João Canijo, Urso de Prata na edição deste ano do Festival de Berlim, não faz parte da lista de 15 finalistas, não obstante a presença do realizador nos EUA em campanha de promoção no início do mês.
“Chegar à ‘shortlist’ seria ótimo. Era garantia de que haveria uma distribuição nos EUA”, afirmava à Lusa o cineasta, que já representou a candidatura portuguesa com "Noite Escura" (2005) e "Sangue do Meu Sangue" (2012).
A ausência aumenta para 40 um recorde negativo nas estatuetas douradas: desde que surge representado na categoria em 1980, Portugal é o país que mais vezes submeteu candidaturas à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas sem nunca chegar às nomeações (nem aos finalistas, anunciados publicamente desde 2007). Nos 40 filmes, nove foram realizados por Manoel de Oliveira.
Na lista divulgada pela Academia estão muitos títulos considerados favoritos nas últimas semanas na temporada de prémios:
* “Amerikatsi” (Arménia), de Michael A. Goorjian
* “Dias Perfeitos” (Japão), de Wim Wenders
* “Eu Capitão” (Itália), de Matteo Garrone
* “Folhas Caídas” (Finlândia), de Aki Kaurismäki
* “The Monk and the Gun” (Butão), de Pawo Choyning Dorji
* "The Mother of All Lies" (Marrocos), de Asmae El Moudir
* “Quatro Filhas” (Tunísia), de Kaouther Ben Hania
* “O Sabor da Vida” (França), de Trần Anh Hùng
* “A Sala de Professores” (Alemanha), de İlker Çatak
* “A Sociedade da Neve” (Espanha), de J.A. Bayona
* “Terra de Deus” (Islândia), de Hlynur Pálmason
* “Terra Prometida” (Dinamarca), de Nikolaj Arcel
* “Tótem” (México), de Lila Avilés
* “20 Days in Mariupol” (Ucrânia), de Mstyslav Chernov
* “A Zona de Interesse” (Grã-Bretanha), de Jonathan Glazer
A maior surpresa é a presença da candidatura do filme de Marrocos, que não conseguiu também ser finalista na categoria de Melhor Documentário de Longa-Metragem.
Para a Ucrânia e Arménia é a estreia no grupo de finalistas. Por outro lado, o Butão, um país no sul da Ásia, no extremo leste dos Himalaias, já chegou uma vez à nomeação para Melhor Filme Internacional com "Um Iaque na Sala de Aula" (2021), e volta a estar entre os finalistas graças ao mesmo realizador Pawo Choyning Dorji... em apenas três candidaturas ao todo.
Nas ausências, destacam-se as candidaturas de “As Ervas Secas” (Turquia), de Nuri Bilge Ceylan; “Em Nome da Terra” (Polónia), de D.K. Welchman e Hugh Welchman; “Os Delinquentes” (Argentina), de Rodrigo Moreno; "Blaga’s Lessons" (Bulgária), de Stephan Komandarev; e “Do Not Expect Too Much from the End of the World” (Roménia), de Radu Jude.
Em Portugal, “A Sociedade da Neve” estreou hoje, 21 de dezembro, nos cinemas, chegando à Netflix a 4 de janeiro; “Terra de Deus” a 8 de junho; “Dias Perfeitos” a 14 de dezembro.
Em 2024, têm estreia nacional prevista "Quatro Filhas" (4 de janeiro) “Folhas Caídas (11 de janeiro), “A Zona de Interesse” (18 de janeiro), “A Sala de Professores” (15 de fevereiro), “Eu Capitão” (29 de fevereiro), “O Sabor da Vida” (5 de maio) e “A Terra Prometida” (data a anunciar).
Destaque para a dupla presença de "Quatro Filhas” (Tunísia) e “20 Days in Mariupol” (Ucrânia) nos finalistas: também podem ser nomeados na categoria de Melhor Documentário de Longa-Metragem, ao lado de "American Symphony", produzido pela casal Obama e sobre o premiado Jon Batiste, e "Still: A Michael J. Fox Movie", sobre o adorado ator.
Nesta categoria, o filme da Tunísia é o único com estreia confirmada em sala em Portugal, em janeiro, mas os finalistas “American Symphony” e “Stamped fom the Beginning” (“Marcados ao Nascer: A História do Racismo nos EUA”), estão disponíveis na Netflix; “Apolonia, Apolonia” na HBO Max; e “Still: A Michael J. Fox Story” na Apple Prime Video.
O processo para chegar aos 15 finalistas em Melhor Filme Internacional começou com os 88 países que submeteram filmes até 2 de outubro e o comité executivo da categoria na Academia a validar a sua elegibilidade de acordo com as regras.
A seguir, centenas de voluntários entre os quase nove mil membros da Academia que formam um comité preliminar de visionamento nesta categoria, divididos em grupos, tiveram de assistir aos filmes que lhe foram atribuídos durante seis semanas, classificando-os com uma nota até 10. Os 15 mais votados de todo este processo são os finalistas conhecidos esta quinta-feira.
Numa segunda ronda, os membros da Academia que formam outro comité têm de ver todos os finalistas e votar em boletim secreto para determinar os cinco nomeados, que serão conhecidos com os das outras categorias a 23 de janeiro.
Comentários