A nona edição da mostra de cinema português Cine Atlântico arranca na sexta-feira, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, com cinco filmes das décadas de 1960 e 70, exibidos durante três dias, e regressa de 18 a 20 de outubro para mostrar cinco filmes contemporâneos.
Apesar de inicialmente a mostra ter sido pensada para mostrar o cinema contemporâneo que é feito em Portugal, o presidente do Cine-Clube da Ilha Terceira, Jorge Paulus Bruno, que organiza o Cine Atlântico, defendeu que a exibição destes filmes das décadas de 1960 e 70 vem completar a aposta realizada no cinema português.
“Achámos que esta era uma oportunidade muito interessante para fazer um contraponto entre aquilo que foi o novo cinema português 60/70 com aquele cinema que atualmente se está a fazer”, explicou, em declarações à Lusa.
Numa parceria com a Cinemateca Portuguesa, vão passar pela sala da Recreio dos Artistas, em Angra do Heroísmo, “Os Verdes Anos” (1963), de Paulo Rocha, “Belarmino” (1964), de Fernando Lopes, “Domingo à Tarde” (1966), de António Macedo, “O Mal Amado” (1974), de Fernando Matos Silva, e “A Fuga” (1976), de Luís Filipe Rocha.
Para Jorge Paulus Bruno, “é importante revisitar” estes “verdes anos do cinema português”, ainda pouco conhecidos do público.
“Vamos começar por ver ‘Os Verdes Anos’, de Paulo Rocha. Foi um filme que inaugurou uma nova época no cinema português, que explora também todo aquele ambiente que se vivia em Lisboa, com a migração de comunidades rurais para Lisboa, a abertura das nossas novas avenidas, etc. Tudo isto deve ser revisto, até para se entender melhor aquilo que atualmente se está a fazer no cinema português contemporâneo”, afirmou.
O cinema realizado nestas décadas, que marcam o final do Estado Novo e o pós-25 de Abril, pode ser considerado um “embrião que dá origem ao atual cinema português contemporâneo”.
“Esta época marcou um novo conceito de cinema em Portugal, abre portas para uma outra perspetiva ao nível da realização. Essencialmente, liberta-se de algumas amarras que o Estado Novo trazia em relação ao cinema português, que era muito folclórico, de propaganda. Já nessa época, e um pouco na linha da ‘Nouvelle Vague’ francesa, começa-se a ter outro cinema”, frisou o presidente do Cine-Clube da Ilha Terceira.
No segundo fim de semana da mostra, o destaque vai para o cinema português mais recente, mas há um elo entre os dois períodos: Luís Filipe Rocha.
O realizador, que estará na ilha Terceira no primeiro momento da mostra, assina “A Fuga”, de 1976, e “O Teu Rosto Será o Último”, de 2024.
A segunda fase, que tem como tema “O Cinema e a Liberdade”, mostra ainda “Banzo”, de Margarida Cardoso, “O Vento Assobiando nas Gruas”, de Jeanne Waltz, “Grand Tour”, de Miguel Gomes, e “A Sibila”, de Eduardo Brito.
Ainda que alguns destes filmes cheguem ao circuito comercial das grandes cidades, como “Grand Tour”, que “está a ser falado, não só nacional como internacionalmente”, dificilmente chegariam à ilha Terceira sem o Cine Atlântico.
“Nós já temos um público fidelizado, um público que pretende ver o cinema português contemporâneo e isto corresponde, aliás, ao essencial dos objetivos do cineclube, que é promover a literacia cinematográfica”, vincou o organizador.
Para além de Luís Filipe Rocha, vão passar pela mostra os realizadores Margarida Cardoso e Eduardo Brito, o coordenador do Loulé Film Office, Manuel Baptista, o programador da Cinemateca Portuguesa Luís Miguel Oliveira e o programador do Cine Atlântico, José Vieira Mendes.
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