Disponível em Portugal desde 2016, a Filmin é uma plataforma de cinema que se distingue pelo cuidado e toque pessoal na apresentação em canais e coleções temáticas dos seus filmes, seja o dos grandes estúdios de Hollywood ou do circuito independente e de autor, europeu, americano ou asiático.
E como há filmes capazes de mudar a vida de um espectador, escolhemos cinco títulos essenciais que marcaram diferentes gerações de cinéfilos. Do cinema asiático ao norte-americano, de títulos com mais de cinco décadas de outros com menos de cinco anos, são um bom ponto de partida para descobrir o catálogo de uma plataforma pensada para quem procura o melhor cinema.
Drive My Car (2021)
Vencedor do Óscar de Melhor Filme Internacional e nomeado ainda nas categorias de Melhor Filme, Realização e Argumento Adaptado, este drama japonês aplaudido pelos cinéfilos que ganhou outras dezenas de prémios da crítica e fez parte em muitas listas dos melhores filmes do ano, é uma meditação lenta e subtil sobre o luto e a perda, adaptada de um conto do escritor Haruki Murakami.
A história acompanha a viagem, real e emocional, de um ator e encenador convidado a encenar "O Tio Vânia", de Tchécov, num festival de teatro em Hiroshima, e da jovem discreta que é a sua motorista, em que se confronta com o passado e o mistério sobre a sua mulher, Oto, que morrera subitamente, levando um segredo com ela.
"Drive My Car" consolidou o realizador Ryusuke Hamaguchi como um dos mais importantes e populares autores asiáticos da atualidade, depois da aclamação por títulos como "Happy Hour: Hora Feliz" (2015), "Asako I & II" (2018) e "Roda da Fortuna e da Fantasia" (2021), também disponíveis na Filmin.
Apocalypse Now (1979)
Talvez dispense apresentações o olhar inimitável e irrepetível Francis Ford Coppola da guerra do Vietname, adaptação livre do romance "Coração das Trevas", de Joseph Conrad, sobre o périplo do capitão Willard (Martin Sheen), encarregado de entrar na selva para encontrar e eliminar o coronel renegado Kurtz (Marlon Brando), que se auto-proclamou semi-deus de uma tribo local.
Mas não são os 147 minutos do "Apocalypse Now" que chegou aos cinemas em 1979 e esteve disponível durante muitos anos, nem os 202 do célebre "Redux", apresentado com pompa e circunstância em 2001 e onde se destacava a reintegração da longa e quase mítica sequência da "Plantação Francesa": a versão disponível na Filmin é a terceira, com 182 minutos, lançada em 2019 como "Apocalypse Now - Final Cut".
Acompanhando de perto o restauro durante quase um ano a partir do negativo original, trazendo uma qualidade de imagem e de som superior que permite "ver, ouvir e sentir este filme como sempre sonhei", Coppola garante que é "a melhor versão" do seu filme, cuja rodagem quase o levou à loucura e à ruína. Mais um pretexto para ver um clássico que parece que se está sempre a descobrir pela primeira vez...
Paris, Texas (1984)
Falecido em 2017, aos 91 anos, Harry Dean Stanton foi um dos mais importantes atores secundários do cinema americano. O seu grande trabalho, aquele que o revelou ao grande público, quando já tinha mais de 60 anos, foi um dos poucos em que era o protagonista: "Paris, Texas", por escolha pessoal do argumentista Sam Shepard.
Num papel em grande parte silencioso que chamou ainda mais a atenção para o seu expressivo rosto, ele era Travis Henderson, desaparecido durante quatro anos, que reaparecia no deserto do Texas, exausto e amnésico, tentando aos poucos reconstruir uma vida feita em pedaços junto da família que deixara para trás.
Ao som da música de Ry Cooder, este é um dos filmes mais emblemáticos de Wim Wenders e do seu fascínio pela América, que desde os tempos do Novo Cinema Alemão nos anos 1970 também tanto tem procurado dar um sentido de existência à Europa pacificada e os seus ideais com obras como "O Estado das Coisas" (1982), "As Asas do Desejo" (1987) ou "Tão Longe, Tão Perto", igualmente disponíveis na Filmin.
Os Sete Samurais (1954)
Poucos filmes se podem gabar de ter influenciado tanto o cinema que se seguiu: muitos espectadores de "Star Wars", "Matrix", "Mad Max", "O Senhor dos Anéis" ou dos universos cinematográficos da Marvel e DC, sem esquecer o "remake" norte-americano que foi "Os Sete Magníficos", nunca saberão a dívida de gratidão que têm para com uma fita japonesa a preto e branco de 1954.
A história tornou-se um arquétipo: no Japão rural do século XVI, os camponeses de uma aldeia cansados de ver as colheitas e as mulheres saqueadas decidem contratar quem os defenda. Um samurai veterano aceita o trabalho e forma um grupo que se tornará guardião da aldeia e ensinará os habitantes a defenderem-se para a grande batalha se avizinha.
Presença sistemática nas listas de melhores filmes de sempre, não há descrição que faça justiça ao poder de "Os Sete Samurais": através de uma história simples mas rica em subtilezas dramáticas, Akira Kurosawa combinou filosofia, entretenimento, emoções e épicas sequências de ação. O resultado é que, passados quase 70 anos, continua a ser um filme moderno que não perdeu nenhum do seu impacto narrativo e técnico. A melhor introdução ao cinema do mestre, que tem vários títulos essenciais presentes na Filmin.
Amor (2012)
Um dos filmes europeus mais importantes e populares do século XXI, ao ponto de ser conhecido pelo título original "Amour", e o culminar artístico de Michael Haneke, o que não é dizer pouco de um cineasta que assinou em pouco mais de uma década "Brincadeiras Perigosas" (1997 e 2007), "Código Desconhecido" (2000), "A Pianista" (2001), "O Tempo do Lobo" (2003), "Nada a Esconder" (2005) e "O Laço Branco" (2009).
Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva mereceram todos os superlativos pela interpretação do casal de octogenários Georges e Anne, pessoas cultas, professores de música reformados, cujo amor vai ser posto à prova quando ela é vítima de um acidente.
"Amor" é um impressionante drama conjugal que não deixou ninguém indiferente, começando pelo júri do Festival de Cannes que o distinguiu com a Palma de Ouro e culminando na Academia de Hollywood, que lhe entregou o Óscar de Melhor Filme Internacional e o nomeou para as estatuetas de Melhor Filme, Realização, Argumento Original e Atriz. Um triunfo artístico que o realizador ainda não conseguiu suplantar.
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