A Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, vai dar início a um ciclo que aborda a relação do realizador que deu nome àquele espaço com o contexto maior do cinema português, anunciou na quarta-feira a Fundação de Serralves.
“Manoel de Oliveira no Cinema Português I” é o primeiro capítulo, como o nome indica, de uma série de ciclos que vão acontecer nos próximos anos, “cujo enfoque procurará perspetivar e enquadrar o percurso autoral de Oliveira no panorama do cinema nacional”, como se pode ler no plano de atividades de Serralves para 2023.
Com o título “A Bem da Nação”, a exposição vai centrar-se nas primeiras décadas de trabalho de Manoel de Oliveira, entre 1929 e 1969, disse o diretor da Casa do Cinema, António Preto, numa apresentação aos jornalistas da programação para 2023.
A exposição vai ser realizada na íntegra “a partir de uma visão de dentro”, ou seja, daquilo que são os arquivos de Manoel de Oliveira e daquilo que o realizador “considerou ser relevante [na] relação” com o cinema português ao longo das décadas.
A exposição será feita com a colaboração da Cinemateca Portuguesa e conta com cocuradoria do realizador e professor universitário João Mário Grilo.
A mostra “pretende desde logo ‘desarquivar’ o arquivo de Manoel de Oliveira, porque Manoel de Oliveira, além de ter sido cineasta, é também um arquivista, se assim o [se pode] dizer”, realçou António Preto.
O plano de atividades acrescenta que “ao longo de mais de uma dezena de sessões, [se apresentará] uma parte significativa da filmografia do realizador produzida nesse intervalo [de anos], sempre em diálogo com a produção portuguesa sua contemporânea”.
Assim, se numa primeira fase “Oliveira participa no que [se] pode designar como cinema de vanguarda ao mesmo tempo que integra, como ator, o elenco de ‘A Canção de Lisboa’ (1933)”, num segundo momento “é possível colocar ‘O Pão’ (1959-1963) em diálogo com o ‘cinema industrial’, que foi terreno fértil de experimentação para os nomes do Novo Cinema”.
“Já numa terceira fase, encontram-se paralelos entre o interesse etnográfico de Oliveira no início dos anos 1960 e o que viria a ser um dos focos do documentarismo português da década seguinte, a antropologia visual”, pode ler-se no mesmo texto.
Para além do ciclo sobre “Autorretratos no Cinema”, iniciado este mês e que se estende a fevereiro, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira vai fazer uma retrospetiva integral do trabalho de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, “dois autores que trabalharam de forma muito intensa as possibilidades de entendimento da relação entre cinema e política”, disse António Preto.
A retrospetiva vai acontecer entre setembro e dezembro e vai obrigar a uma revisão de toda a legendagem dos filmes da dupla francesa, salientou o diretor da Casa do Cinema.
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