A maratona cinematográfica de Cannes começou a 17 de maio e termina este domingo com o anúncio do júri presidido por Pedro Almodóvar do filme vencedor da Palma de Ouro da maior mostra do cinema do mundo.
A crítica já tem os seus favoritos, embora muitas vezes o seu veredito não antecipe a escolha final. Mas também ela está dividida: a francesa defende "120 Battements par Minute", de Robin Campillo, sobre a história da Act Up, uma associação que, nos anos 1990, lutou na França para que o governo abrisse os olhos e agisse perante a epidemia da Sida.
Pérez Biscayart interpreta um dos membros da associação que está infetado pelo vírus e namora um novo integrante do grupo, que não tem a doença. Uma história de amor que aborda paralelamente os debates e os feitos da Act Up.
"A sua atuação é muito, muito boa. As pessoas deixam a sala completamente emocionadas", deu conta à agência AFP o crítico francês Pierre Vavasseur.
Por sua vez, a crítica anglo-saxónica e europeia rendeu-se a "You Were Never Really Here", com Joaquin Phoenix como um homem atormentado, brutal com os seus inimigos, e terno com a sua mãe idosa (Judith Roberts), que executa trabalhos sujos em prol de uma causa nobre: resgatar menores de idade das redes de prostituição.
Ainda assim, estes críticos também se inclinam para "Loveless", do russo Andrei Zvyaguintsev, um drama sobre um casal que está a divorciar e que não tem nenhum afeto pelo seu filho de 12 anos, mas que terá que permanecer junto para o encontrar quando ele desaparece.
Este drama abriu o festival e pareceu marcar o tom pessimista da competição oficial: crianças diabólicas como em "The Killing of a Sacred Deer", do grego Yorgos Lanthimos; "Happy End", de Michael Haneke, que disputa a sua terceira Palma de Ouro, e aborda histórias cujo fio condutor é a violência; assim como o alemã "In the Fade" e o americano "Good time"; e as reflexões sobre a desumanização da sociedade, como o húngara "Jupiter's Moon" e o sueco "The Square".
O cinema em crise?
Independentemente do tom das opiniões, a crítica não pôde evitar mostrar uma certa frustração nesta edição do Festival de Cannes, meca do cinema de autor.
"Normalmente sou uma pessoa tolerante, satisfeito com as escolhas de Cannes [...] e este ano sou o primeiro a dizer que não é uma seleção de alto nível", diz Vavasseur.
O crítico Jonathan Romney, da revista Screen International, que há quase 30 anos acompanha o Festival, seguiu o mesmo tom, dizendo que "havia muitos nomes que geraram grande expectativa, mas infelizmente nos decepcionaram".
"Talvez haja uma falta de energia e de espírito aventureiro neste momento a nível global. Às vezes o cinema passa por períodos assim", acrescentou.
Apesar disso, os críticos mostraram-se mais entusiasmados com duas atrizes, que irão competir pelo prémio de melhor interpretação: Nicole Kidman, pelos dois filmes que protagoniza: ("The Beguiled", de Sofia Coppola, e "The Killing of a Sacred Deer") e a alemã Diane Kruger ("In the Fade", de Fatih Akin).
Para o prémio de melhor ator, acredita-se que passará tudo por americano Joaquin Phoenix ("You Were Never Really Here"), o britânico Robert Pattinson ("Good Time"), o francês Jean-Louis Trintignant ("Happy End") e o argentino Nahuel Pérez Biscayart ("120 Battements par Minute").
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