O cineasta italiano Nanni Moretti mergulhou na melancolia, esta quarta-feira, com o filme "Il sol dell'avvenire", em disputa pela Palma de Ouro do 76.º Festival de Cannes.
Aos 69 anos, Moretti é um cineasta 'habitué' do festival francês, onde obteve, em 2001, a Palma de Ouro com "O Quarto do Filho", um filme com um tom muito mais sombrio.
Moretti fez de se interpretar a si mesmo uma especialidade e, neste novo filme, não apenas se questiona como artista, como pai e como marido, mas também dispara os seus dardos contra a política italiana, as plataformas de streaming e até o cinema dos demais.
Na fita, um autor um tanto maníaco prepara um filme sobre um dirigente comunista local na Itália dos anos 1950, mas as suas obsessões impedem-no de terminar a rodagem.
Moretti traz novamente a Cannes, este ano, um "filme dentro de um filme", em que realidade e fantasia se misturam.
"Não há tristeza" no filme, assegurou à France-Presse este cineasta experiente, que alguns definem como um Woody Allen europeu.
"Há alegria em criar coisas, imaginá-las, e humor", acrescenta.
"Espero que não seja um testamento", diz, referindo-se a este filme.
Cannes recebeu este ano vários criadores na fase final das suas respetivas carreiras, como o também italiano Marco Bellocchio e o britânico Ken Loach.
"Il sol dell'avvenire" questiona em particular o papel do Partido Comunista Italiano perante a repressão soviética na Hungria em 1956, embora a perspetiva de Moretti sobre a ideologia comunista em si seja ambígua ao longo da obra.
Idoso em crise, Moretti entra em filmes de outros cineastas para dar lições, irritando a sua esposa, que planeia abandoná-lo, enquanto a filha apresenta aos seus pais um namorado bastante peculiar.
O júri da Palma de Ouro, que avalia 21 filmes na competição, dará seu veredito no próximo sábado, 27 de maio.
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