A humilhação ao próximo, "muito característica dos espanhóis", segundo o realizador Jaime Rosales, é veiculada no seu novo filme "Petra", que foi apresentado esta quinta-feira (10) em Cannes e é protagonizado por uma atriz em rápida ascensão, Bárbara Lennie.
"É um filme de uma beleza incomum. Não se entende porque não faz parte da competição oficial" pela Palma de Ouro, disse sobre "Petra" Édouard Waintrop, delegado-geral da Quinzena dos Realizadores, secção independente do Festival de Cannes que selecionou o último trabalho de Rosales ("A Solidão", "Sueño y silencio").
Bárbara Lennie, em Cannes também por ter entrado em "Todos lo saben", filme de abertura do festival que concorre ao prémio principal, encarna Petra, uma jovem artista que, na sua busca desesperada para saber quem é seu progenitor, entra numa família abastada que reside no campo e vive atormentada pela figura maquiavélica do pai.
Este vilão, incapaz de suportar a felicidade do próximo, forçará o destino fatídico dos seus familiares.
Nesta tragédia grega falada em espanhol e catalão, filmada entre a serra de Madrid e o campo da província de Girona (nordeste), atuam também Marisa Paredes e Álex Brendemühl.
Ao longo do filme, Rosales empurra para além dos limites suportáveis a crueldade da humilhação, "algo que não acontece tanto noutros países como na Espanha", disse à agência AFP.
"Os estrangeiros, sobretudo os anglo-saxões, surpreendem-se com o facto de que quando vivemos um conflito e chega o momento da reconciliação, surja uma necessidade de um grupo de humilhar o outro", explica.
"Se vamos fazer as pazes, que sejam verdadeiras", defende.
Não é por acaso que um dos protagonistas, Lucas (Brendemühl), seja um fotógrafo trabalhando nas valas comuns das vítimas do franquismo.
"Este era inclusive um pilar do filme quando comecei, mas no fim das contas ficou como algo periférico". "É que temos muita dificuldade de resolver os nossos problemas do passado", insiste.
Em "Petra", Rosales ignora o tempo, dividindo a história em capítulos desordenados e anunciando ao espectador o que virá.
"Procurei um híbrido entre o cinema clássico - com atores conhecidos e elementos de suspense - e o moderno, que me fascina, com intérpretes não profissionais e utilizando a câmara e a música de forma não convencional", disse.
O resultado foi recebido com aplausos do público, deixando Rosales com uma agradável sensação de alívio após quatro anos de trabalho: "É o que mais me importa, como vai ser a receção do público".
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