Burt Reynolds morreu esta quinta-feira aos 82 anos num hospital na Flórida, vítima de paragem cardíaca.
O ator era um dos grandes mitos do cinema que surgiram nos anos 70, quando, para além da charme viril como símbolo sexual, se tornou um fenómeno cultural.
Para além das relações românticas com estrelas como Sally Field ou Dinah Shore, esta foi a época em que se tornou a maior atração das bilheteiras durante cinco anos consecutivos, entre 1978 e 1982, e também se tornaram lendárias algumas das propostas que rejeitou, desde ser James Bond e Han Solo, a filmes vencedores de Óscares como "Voando Sobre um Ninho de Cucos" ou "Laços de Ternura" (que destacou especificamente como uma das suas decisões mais estúpidas), entre outros.
Burt Reynolds começou a trabalhar em televisão em 1958 após uma lesão ter interrompido uma carreira em ascensão no Futebol Americano na Universidade de Flórida, fazendo a estreia no cinema em 1961 com um papel secundário em "Angel Baby" (1961).
No que se tornou uma grande anedota na história de Hollywood, ele e Clint Eastwood foram despedidos ao mesmo tempo das séries "Gunsmoke" e "Rawhide" em 1965: a Reynolds disseram que não conseguia representar e a Eastwood que o seu pescoço era muito magro. Ficaram amigos para a vida.
O lugar ao sol só surgiu com "Fim-de-Semana Alucinante" (1972), onde era um dos quatro homens perfeitamente normais que decidiam embarcar em duas canoas por um rio que só conheciam como uma linha no mapa, dirigindo-se para uma zona selvagem que descobririam da pior maneira que não conseguiam controlar.
John Boorman, o realizador desse clássico, prestou-lhe agora homenagem recordando uma história: "Quando acabámos de fazer 'Deliverance', o Burt disse-me 'Fiz este filme sob falsos pretextos.' 'Porquê?', perguntei. 'Porque não sei representar, estava apenas a fingir!' 'Bem, enganaste-me bem.' O Burt era brilhante e destemido e sempre divertido."
O filme marcou o início de um percurso que o tornou talvez a estrela mais popular daquele tempo, muita à vontade na fusão perfeita entre ação e comédia em filmes como "Golpe Baixo" (1974), "Os Bons e os Maus" (1977), o primeiro de vários filmes que fez com o realizador, antigo duplo e grande amigo Hal Needham, "Meia bola e... Força" (1977), "Hooper" (1978), "Amar de Novo" (1979), "O Comboio dos Malucos" (1980), ""A Corrida Mais Louca do Mundo" (1981), "A Melhor Casa de Prazer do Texas" (1982) e "Loucuras de um Casal" (1982).
Os fracassos de "Prego a Fundo" (1983), "Os Meus Problemas com as Mulheres" (1983) e principalmente "A Corrida Mais Louca do Mundo II" (1984) e "Cidade Ardente" (1984), onde trabalhou finalmente com Clint Eastwood, mostraram que já não tinha o mesmo impacto junto do público ao aproximar-se dos 50 anos. Isto foi reforçado pelos filmes que se seguiram, onde apenas se destacou (pela qualidade, não pelas receitas) "Ladrão e Meio" (1989), acabando por fazer a transição para a televisão.
A série de comédia "Evening Shade", exibida entre 1990 e 1994, ajudou a revigorar a carreira, num registo que conhecia bem: o papel de um treinador de Futebol Americano que regressava à sua terra natal para treinar a péssima equipa do liceu valeu-lhe o Emmy e o Globo de Ouro em 1992.
Em 1996, Burt Reynolds regressou ao cinema, mas os resultados foram infelizes: tratava-se de "Striptease", que acabou por também marcar o início do fim da carreira de sucesso de Demi Moore. Nesse mesmo ano, declarou a bancarrota por causa do estilo de vida extravagante, maus investimentos e um divórcio.
Em 1997, a surpresa e o "regresso": com "Boogie Nights" (1997) viu finalmente reconhecido o talento como ator por críticos, colegas e público, conseguindo ainda a primeira e única nomeação para os Óscares da sua carreira, como secundário.
Com uma ironia: detestou o filme e o papel do realizador de filmes pornográficos, bem como Paul Thomas Anderson (com quem recusou voltar a trabalhar em "Magnolia"), ao ponto de despedir o seu agente. A hostilidade só abrandou nos últimos anos, quando reservou palavras mais simpáticas nos espetáculos ao vivo onde falava sobre a carreira.
Com a carreira revigorada, vimo-lo como ator secundário em vários filmes ("Alaska Escaldante", "Os Quebra-Ossos", que era uma nova versão de "Golpe Baixo", "Os Três Duques") e estrela em telefilmes até se intensificarem os problemas de saúde há cerca de dez anos.
Em maio deste ano, tinha sido anunciado que iria entrar no novo filme de Quentin Tarantino, "Once Upon a Time in Hollywood", actualmente em rodagem, com uma personagem importante ao lado de Leonardo Di Caprio e Brad Pitt. Não se sabe se chegou a filmar as suas cenas.
As reações de Hollywood
Arnold Schwarzenegger e Mark Wahlberg, que entrou em "Boogie Nights" foram algumas das estrelas que já reagiram à notícia do desaparecimento de Burt Reynolds, enquanto Kate Hudson partilhou simplesmente uma fotografia ao colo da mãe Goldie Hawn e ao lado do ator durante a rodagem de "Loucuras de um Casal" (1982).
Arnold Schwarzenegger: "Burt Reynolds foi um dos meus heróis. Ele foi um pioneiro. Mostrou a transição de ser um atleta ara se tornar o ator mais bem pago, e sempre me inspirou."
Mark Wahlberg: "Descansa em paz para uma lenda e um amigo".
Sylvester Stallone: "Um dia triste, faleceu o meu amigo BURT REYNOLDS. Lembro-me dele em 1979, ele recordava-me sempre que o devia ter escolhido para ser o Coronel Trautman em "A FÚRIA DO HERÓI", eu disse que era impossível porque és demasiado caro e demasiado famoso e provavelmente mais duro do que o Rambo! Ele riu-se, tinha um grande sentido de humor e apreciei tanto a sua companhia..."
Kate Hudson
Rod Lowe: "Uma lenda"
Michael Chiklis: "Devo a minha carreira, pelo menos em parte, ao grande Burt Reynolds. Devastado por saber do seu falecimento. Era único. Um talento carismático e divertido que fez muitas ações boas discretamente, sem qualquer expectativa pessoal mas pela bondade do seu coração extraordinário.
Reba McEntire: "O meu bom amigo começou uma nova jornada. Descansa em paz, meu amigo. Nunca irei esquecer os momentos maravilhosos que partilhámos juntos."
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