José Condessa, de 25 anos, vai estar esta semana pela primeira vez no Festival de Cinema de Cannes, por causa do filme “Estranha Forma de Vida”, de Pedro Almodóvar, no qual participa, e no dia 26 estará na plataforma Netflix com a série “Rabo de Peixe”, de Augusto Fraga, sendo um dos protagonistas.
Em entrevista à Lusa, José Condessa contou que chegou àquelas duas produções através de várias fases de ‘castings’ e que a rodagem acabou por ser praticamente coincidente no verão passado; uma em Espanha e outra na ilha de São Miguel, nos Açores.
“Estranha Forma de Vida” é um ‘western queer’, como o próprio Pedro Almodóvar o descreveu, sobre dois 'cowboys' que se reencontram mais de vinte anos depois de terem trabalhado juntos como "pistoleiros a soldo".
A narrativa decorre em momentos temporais diferentes, contando com os atores Ethan Hawke e Pedro Pascal nos papéis de Jake e Silva, e com Jason Fernandez e José Condessa enquanto aquelas personagens mais novas.
“O que eu retiro dali, para além das cenas de estar com o Almodóvar e de aprender com ele e de perceber como é que ele trabalha, como ator é o estar ali com eles, beber das histórias. A mim diz-me muito como ator, as ambições são muito parecidas”, lembrou.
Para “Rabo de Peixe”, o trabalho de José Condessa foi substancialmente diferente na construção da personagem Eduardo, um rapaz que sonha com uma vida melhor e que aproveita todas as oportunidades para sair da ilha rumo à América.
“Rabo de Peixe” parte de um acontecimento verídico ocorrido em 2001, quando um veleiro naufragou com meia tonelada de cocaína a bordo, tendo grande parte da droga dado à costa próximo de Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel.
A partir desses factos, foi construída uma ficção sobre quatro amigos que, na posse de vários quilos de droga, ambicionam mudar de vida, e sobre uma investigação policial sobre a origem da cocaína.
Na série, os quatro amigos são interpretados por José Condessa, Helena Caldeira, Rodrigo Tomás e André Leitão.
“Eu nunca tive tanto tempo de preparação de uma personagem”, afirmou José Condessa, lembrando as semanas passadas em Rabo de Peixe, em ensaios e em contacto direto com a população local.
José Condessa, que pisou os palcos ainda criança, no teatro amador, por influência do pai, podia ter sido futebolista, mas acabou por seguir a representação, ao estudar na Escola Profissional de Teatro de Cascais e ao estrear-se no Teatro Experimental de Cascais, ambos cofundados por Carlos Avilez.
Entrou em várias novelas portuguesas, entre as quais “Bem me Quer” (TVI), e em 2020 estreou-se na novela brasileira “Salve-se quem Puder”. No cinema, fez, por exemplo, “O som que desce na terra” e “Salgueiro Maia – O Implicado”.
Este ano, José Condessa protagonizou a série “O crime do padre Amaro” (RTP), entrou na série “Lúcia, Guardiã do Segredo” (OPTO) e acabou de filmar a minissérie “A Filha” (TVI).
Com a existência de mais canais de divulgação da produção portuguesa – cinema, televisão pública, canais privados, exibição em streaming – José Condessa diz que há mais mercado para trabalhar, mas isso não significa que seja mais fácil.
“É difícil ter oportunidade, mas trabalhando com estes grandes podemos crescer. Pode ser o futuro e deve ser um futuro para todos nós. […] Antes de ‘Rabo de Peixe’ estive parado quase um ano e não é propriamente um mar de rosas isso acontecer. E deve-se à falta de oportunidade”, revelou.
José Condessa lembra que o trabalho de ator em Portugal continua a ser precário e intermitente e que para muitos nem sempre é possível escolher que caminho seguir.
“Já me aconteceu estar muito tempo sem trabalho e começar a pensar na minha vida. Porque depois estamos num país em que tudo neste momento é caro. Ser jovem neste país não é fácil. […] Por isso, sim, é uma realidade que é verdade, que existe e que não se deve esconder. Porque muitas vezes escondendo é fingir que não existe e existe. Nós andamos aqui em Portugal a lutar por 1% [do Orçamento do Estado] para a Cultura, não é?”, disse.
Em setembro, José Condessa volta aos palcos, onde já interpretou “Hamlet”, com encenação de Carlos Avilez, e “Romeu e Julieta”, dirigido por João Mota.
Desta vez irá contracenar com a atriz Luísa Cruz em “A Golondrina”, do espanhol Guillem Clua, com direção de Carlos Avilez, em Cascais, e que deverá andar depois em digressão pelo país.
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