Angelina Jolie regressa aos holofotes do Festival de Cinema de Veneza esta quinta-feira como Maria Callas, “La Divina”, cuja voz rica, personalidade glamorosa e caso de amor trágico hipnotizaram o público em todo o mundo.
Em “Maria”, a atual estrela do cinema esforça-se por capturar a presença dramática transcendente e a vida atormentada de uma das divas mais resplandecentes da ópera num 'biopic' do realizador chileno Pablo Larrain.
O filme que estreia no Lido na noite de quinta-feira, segundo dia do festival, é o último da trilogia de filmes de Larrain sobre mulheres icónicas que existiram - depois de "Spencer" de 2021 sobre Princesa Diana e "Jackie" de 2016 sobre Jacqueline Kennedy. As atrizes que rodaram às ordens do realizador agradecem: Kristen Stewart e Ntalie Portman respetivamente foram nomeadas para os Óscares.
O realizador disse que apenas uma estrela grandiosa poderia interpretar o papel da cantora grega nascida nos EUA.
Entra Jolie.
“Esta é a maior diva do século XX, e quem poderia interpretar isso?”, disse Larrain à Vanity Fair na semana passada.
“Não queria trabalhar com alguém que ainda não tivesse isso. Precisava de uma atriz que fosse natural e organicamente aquela diva, carregasse esse peso, fosse aquela presença. Angelina estava lá.”
Ausente dos ecrãs desde 2021, a atriz e realizadora norte-americana de 49 anos tem-se mantido relativamente discreta, mesmo com o seu longo e amargo divórcio de Brad Pitt a continuar nas manchetes.
O fascínio do público pela vida privada de Jolie tem paralelos com o de Callas, cuja vida e amores tempestuosos - incluindo a sua relação com o magnata grego Aristóteles Onassis, que a trocou por Jacqueline Kennedy - foram igualmente tema para os tablóides.
Mas embora os paparazzi saiam com força total na quinta-feira, Jolie - que foi vista no calor de Veneza na terça-feira vestida com um sobretudo Christian Dior - não se cruzará com Pitt durante a sua visita.
A comédia de ação "Lobos Solitários", na qual ele e George Clooney interpretam profissionais rivais de resolver “problemas”, será exibida fora de competição no Lido no domingo, conforme planeado propositadamnente pelos organizadores do festival para evitar encontros constrangedores
A acompanhar Jolie em “Maria” estão três proeminentes atores italianos: Valeria Golino no papel da sua irmã, Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher como o casal de empregados que permaneceu ao seu lado até ao seu trágico fim.
Muito assustador
Um dos 21 filmes em competição pelo prestigiado Leão de Ouro de Veneza, "Maria" centra-se nos últimos anos em isolamento de Callas em Paris na década de 1970, enquanto recorda a sua vida e carreira antes de morrer aos 53 anos de ataque cardíaco.
Jolie terá estudado seis meses para o papel, treinando-se para imitar as cadências e tons da cantora enquanto o filme mistura digitalmente a sua própria voz com a da célebre soprano.
“Não pode fazer um filme como este com uma atriz que não está realmente a cantar”, disse Larrain à Vanity Fair.
“Isto é real – foi muito assustador para ela, mas conseguiu.”
Na sua época de glória, Callas foi uma estrela absoluta, tanto pela sua carreira excecional nos palcos mais prestigiados, do La Scala de Milão à Ópera de Paris, como pelo seu tempestuoso caso de nove anos com Onassis.
Nascida Maria Kalogeropoulou, tornou-se Callas à custa de grandes esforços, seguindo uma dieta draconiana em 1954 para perder 30 quilos e transformar-se numa diva absoluta com porte altivo e elegância impecável.
Além do grego, a sua língua materna, falava perfeitamente inglês, francês e italiano.
De caráter vulcânico, Callas protagonizou grandes triunfos e algumas saídas inoportunas do palco.
Embora alguns críticos tenham encontrado falhas na voz de Callas, ela era profundamente expressiva, capaz de conferir intensidade dramática a qualquer papel, o que combinado com a sua beleza e majestosa presença de palco, provocavam aplausos frenéticos de pé.
Um grande talento com uma ética de trabalho incansável, Callas foi frequentemente retratada como uma estrela “temperamental”, rótulo que rejeitou, defendendo-se como uma perfeccionista disciplinada e com padrões elevados.
Ela reviveu sozinha as óperas de bel canto do século XIX de Donizetti, Rossini e Bellini – cuja “Norma” foi um dos papéis característicos de Callas.
A sua performance de "Tosca" no Covent Garden de Londres, filmada por Franco Zeffirelli em 1964, é um clássico da ópera filmada.
Alguns anos depois, Callas abandonou as grandes produções operáticas e dedicou-se a dar recitais, até se reformar em 1973.
Zeffirelli filmou uma biografia cinematográfica da sua amiga em 2002, com Fanny Ardant no papel principal.
Callas morreu em 1977.
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