Para o desenhador André Carrilho, que estreia na quinta-feira a animação “A menina com os olhos ocupados”, a Inteligência Artificial ainda não substituiu a criatividade, mas é preciso reafirmar que a arte é feita por pessoas.
“A menina com os olhos ocupados” é um filme de animação que tem estreia na quinta-feira na abertura do Monstra - Festival de Animação de Lisboa e baseia-se num premiado livro ilustrado para a infância, com o mesmo nome, que André Carrilho publicou em 2020.
Livro e filme mostram uma menina que não tira os olhos de um telemóvel, alheando-se de toda a realidade que a rodeia, sobretudo de brincadeiras imaginárias e aventuras, de um passeio na rua, uma ida à praia ou um espetáculo de circo.
Se o livro é ancorado numa relação entre texto e ilustração, feita sobretudo em aguarela, o filme não tem diálogos, mas todas as personagens ganham movimento e som.
Em declarações à agência Lusa, André Carrilho contou que lhe parecia impossível adaptar aquele livro para um filme de animação, precisamente pela técnica de aguarela, que “permite algum caos, descontrolo, algum caráter humano e analógico”.
Mas o autor reconsiderou o convite feito pela produtora Blablabla Media e avançou com o projeto desta que é a segunda curta-metragem de animação, depois de “Jantar em Lisboa” (2007).
A solução encontrada foi arranjar “um híbrido de filmagens de manchas de tinta com animação tradicional feita à mão, ‘frame a frame’ [fotograma a fotograma]. É tudo desenhado à mão”, depois complementado com aguarela digital, aproximando visualmente os dois objetos, livro e filme, explicou.
Nos créditos finais da curta-metragem foi acrescentada a informação de que esta animação foi feita sem recurso a Inteligência Artificial.
“Acho que hoje em dia temos que reafirmar que as coisas são feitas por pessoas e este filme todo, desde a música que foi tocada por músicos, com instrumentos reais, as mãos que desenharam cada personagem, foi tudo [fruto de] decisões individuais de pessoas, de uma equipa portuguesa, tudo feito com as nossas mãos e a nossa criatividade”, sublinhou.
André Carrilho diz-se ainda pouco impressionado com as experiências que já fez com recurso a Inteligência Artificial e acha que ainda não substitui a criatividade. “A tecnologia pode ser utilizada de modo a proteger e a enaltecer o trabalho feito por humanos e à mão, por exemplo, fazer uma correção de cor, ou substituir um desenho”.
Mas, o ilustrador e caricaturista também reconhece uma possibilidade: “As pessoas olharem para o resultado do filme e acharem que há um botão que se clica num programa qualquer que faz o filme assim”.
André Carrilho, com mais de duas décadas de trabalho na ilustração, animação e sobretudo em caricatura e cartoon, áreas que lhe valeram vários prémios internacionais, está agora mais interessado em apostar em animação.
“A menina com os olhos ocupados” foi o primeiro livro ilustrado de André Carrilho para a infância, ao qual se seguiu “Senhor Mar”, com a mesma personagem, em 2022.
Com a Blablabla Media, produtora de Filipe Araújo e Hemi Fortes, André Carrilho prepara uma série de animação com esta mesma menina do filme de animação e dos dois livros.
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