Estreou nos cinemas a 18 de dezembro de 1985, faz agora 35 anos...
Para os seus críticos, é um melodrama competente, mas vulgar, com uma história bonita mas em que muito pouco acontece que justifique durar 160 minutos. Uma viagem turística a África. Totalmente "feito" a pensar nos Óscares. E, claro, um dos piores da estatueta dourada de Melhor Filme (e mais seis das 11 categorias em que estava nomeado).
Para os milhões que o viram nos cinemas, em vídeo e na TV, "África Minha" foi e continua a ser um deslumbrante épico romântico à antiga, um grande espetáculo para ser vivido apenas no grande ecrã em que tudo é superlativo, das estrelas a recordar as dos clássicos com o estatuto de Meryl Streep e Robert Redford, à fotografia e banda sonora, e claro, as paisagens de África.
Para os fãs, a tal "viagem turística" é uma profunda jornada emocional e espiritual para descobrir o verdadeiro significado do célebre "I had a farm in Africa" [Tive uma fazenda na África] de que a Baronesa Karen Blixen fala no início do filme, simbolizada numa das cenas mais famosas da história do cinema, a do voo pela savana africana que revela "uma visão do mundo através dos olhos de Deus"...
1. "África Minha" continua a ser um dos maiores sucessos de sempre nos cinemas portugueses, onde chegou a 28 de fevereiro de 1986: 800 mil espectadores durante mais de um ano em cartaz. O seu impacto foi especialmente sentido pelos que foram vê-lo pelas saudades de África, após a saída das antigas colónias portuguesas em 1974-1975.
2. Desde a publicação em 1937 que vários realizadores, nomeadamente David Lean, Orson Welles e Nicolas Roeg, tentaram adaptar ao cinema as memórias de Karen Blixen (1885-1962), mas a estrutura não linear e melancólica tornava difícil encontrar uma coluna narrativa. Ao longo dos anos, o papel da Baronesa podia ter ficado para Greta Garbo, Audrey Hepburn ou Julie Christie.
3. O problema foi (parcialmente) resolvido pelo realizador Sydney Pollack com o argumentista Kurt Luedtke graças a outras fontes e principalmente quando decidiram tornar o tema central o que tinha ficado de fora desse livro e fora revelado por uma biografia escrita por Judith Thurman: o casamento infeliz com o Barão Bror von Blixen (1886-1946) e o envolvimento amoroso com Denys Finch Hatton (1887-1931).
4. Após escreverem várias versões do argumento, Pollack e Luedtke conseguiram sintetizar a ideia da história de "África Minha" numa frase: "Posse. Liberdade versus dever". A partir daqui começou a desenvolver-se a personagem de Karen, da sua relação com Denys e como foi evoluindo a sua atitude com África e os seus habitantes. o argumento demorou dois anos a ficar pronto.
5. Apesar de já ter dois Óscares e ser considerada uma das melhores atrizes do seu tempo, Meryl Streep não estava na lista de candidatas de Sydney Pollack para ser Karen Blixen porque não a achava suficientemente sexy. Isto deve ter chegado aos ouvidos da atriz, que compareceu no encontro com o realizador com uma blusa decotada e um sutiã push-up. "Reles, mas funcionou", recordaria em 1997.
6. Já Robert Redford foi sempre uma escolha óbvia para Sydney Pollack: era o sétimo filme que faziam juntos em 19 anos. E embora o ator tenha começado por representar Denys Finch Hatton com sotaque britânico, o realizador pediu-lhe para deixá-lo cair porque achou que os espectadores iam achar esquisito ouvir uma grande estrela americana soar tão diferente do que estavam habituados.
7. Por causa do papel de vilão em "Nunca Mais Digas Nunca", o filme não oficial da saga James Bond, o austríaco Klaus Maria Brandauer sempre foi a primeira escolha para ser Bror, o marido infiel de Karen Blixen.
8. Cerca de 70% do filme foi rodado mesmo em África, mas por causa da proibição de usar animais selvagens para entretenimento no Quénia, para certas cenas os leões tiveram de ser "importados" da Califórnia.
9. Meryl Streep estava extremamente nervosa ao filmar a icónica cena em que Denys lava o cabelo de Karen pela precisa próxima de hipopótamos muito ciosos do seu território.
10. Embora algumas das suas regras tenham sido relaxadas ao longo dos anos, a Baronesa Karen Blixen continua a ser a única mulher a ter sido convidada para beber no bar masculino do Muthaiga Country Club, em Nairobi (Quénia).
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