Após “O Pianista” (2002), Adrien Brody tem um dos papéis mais significativos da sua carreira em “O Brutalista”, um filme monumental de três horas e 35 minutos que revisita o mito americano da integração, e as suas falhas, através da viagem de um arquiteto que sobreviveu ao Holocausto.

Desde a sua apresentação em competição no Festival de Cinema de Veneza, o filme, que ainda está em exibição nos cinemas portugueses, acumula as mais prestigiadas nomeações e prémios. Ganhou três Globos de Ouro, incluindo Melhor Filme em Drama e recebeu 10 nomeações para os Óscares.

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Para além da sua versão sombria do sonho americano, ao estilo de "O Padrinho", "O Brutalista" também aborda de forma mais ampla a questão das repercussões no tempo do trauma do Holocausto, tanto psicologicamente entre os sobreviventes como entre aqueles que os rodeiam, bem como através das suas obras e do mundo que moldam.

Um papel feito à medida para Adrien Brody, vencedor do Óscar há 20 anos pelo seu papel como sobrevivente do gueto de Varsóvia em “O Pianista”, de Roman Polanski.

Aqui, retoma o percurso da história ocidental mais ou menos onde o deixou, no final da Segunda Guerra Mundial.

Em "O Brutalista", interpreta um arquiteto húngaro do movimento Bauhaus chamado László Toth, que consegue emigrar para os EUA logo após a guerra. Para aperfeiçoar o sotaque húngaro deste herói, fictício mas inspirado em diversas figuras históricas, a pós-produção utilizou software de Inteligência Artificial, gerando alguma polémica.

Começando do nada e sem um tostão, László mergulha nas drogas e na pobreza, antes de conhecer um milionário dos subúrbios da Filadélfia (interpretado por Guy Pearce), que o alimenta, abriga e o contrata para construir um imponente edifício, cuja construção levará anos.

Enquanto o arquiteto vê finalmente a possibilidade de desfrutar da sua parte no sonho americano e a perspetiva de trazer para o seu lado a família presa na Europa, o ecrã começará a rasgar-se, corroído pela xenofobia e pelo anti-semitismo latentes.

Três horas e 35 minutos e um intervalo

O filme, que faz da arquitetura uma metáfora inteligente para as instituições humanas, é diferente de tudo.

Rodado em 70mm, um dos mais belos formatos de filme, ele estende-se por três horas e 35 minutos, com intervalo de um quarto de hora incluindo no ecrã em contagem decrescente , e nunca para de seguir rumos que surpreendem o espectador.

A Bauhaus é uma escola artística que floresceu no início do século XX antes de ser banida pelos nazis e os seus representantes perseguidos.

“Há tantos arquitetos talentosos da Bauhaus que nunca conseguimos ver o que gostariam de ter construído, que futuro imaginavam”, disse o realizador Brady Corbet no Festival de Veneza.

“Infelizmente, este filme é ficção de história virtual, a única forma de visitar este passado”, acrescentou o cineasta de 36 anos, durante muito tempo mais conhecido pela sua carreira de ator (“Mysterious Skin” e a versão norte-americana de “Funny Games”).

Fruto de sete anos de trabalho, “o filme é dedicado a eles, aos artistas que não conseguiram concretizar a sua visão”.

Inspirado num tema bastante difícil, “a manifestação física dos traumas do século XX” na arquitetura, “O Brutalista” é levado por um fôlego e uma atenção às suas personagens que nunca o torna doutrinador.

O filme tem especial importância aos olhos de Adrien Brody, que “sentiu imediatamente compreensão e empatia pela personagem”.

“A minha mãe [Sylvia Plachy] é uma fotógrafa nova-iorquina, mas também uma imigrante húngara, que fugiu da Hungria em 1956 e se refugiou nos EUA e, assim como László, teve que começar tudo de novo e perseguir o sonho de se tornar uma artista.”, revelou.

“É uma ficção que parece muito real, é muito importante para mim tornar a personagem real”, continuou.

“O filme não representa apenas o passado, mas deve lembrar-nos desse passado e o que devemos aprender com ele para o nosso presente.”, resumiu.

A 97.ª edição dos Óscares está marcada para 2 de março, em Los Angeles, Califórnia, com apresentação de Conan O’Brien.

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